Comentário noticioso acinzentado e o assim-assim
Quando Marega recusou permanecer em jogo e abandonou o campo, após ter sido alvo de insultos racistas por parte de adeptos do Vitória de Guimarães, houve várias vozes dissonantes que não chegaram ao céu. Como as vozes de burro.
Abandonar o campo ou permanecer nele não teriam sido actos de heroísmo.
Permanecer e ignorar o extremo racismo de que estava a ser alvo teria sido um acto derrotista de submissão.
Abandonar o campo foi um acto de afirmação da dignidade que merece como ser humano.
Se insultos racistas não são racismo, então o que é racismo afinal?
Relativizar questões importantes é um desporto nacional tão ou mais importante que o futebol em Portugal.
Ao relativizar a pobreza, o machismo, a xenofobia, o racismo e muitos mais -ismos que a sociedade portuguesa considera "um exagero", tenta-se aniquilar questões sobre as quais ninguém quer debater e resolver, porque para isso haveria que aceitar que elas existem. E os portugueses adoram a evasão, evitando a todo o custo o confronto com as questões essenciais da própria sociedade. Esta evasão é designada como "tolerância". É assim que os portugueses se consideram: tolerantes. Para isso, basta calar as questões, mesmo que elas existam.
O racismo tem espectro?
Podemos ser pouco, assim-assim ou muito racistas?
Mandar alguém de outra cor "voltar para a terra deles" provavelmente deve ser uma espécie de racismo "tolerante", assim-assim.
O racismo português é como uma galinha, uma espécie de pássaro que não voa, que cacareja, mas que, na realidade, é o parente mais próximo do T-Rex.