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Jul22
Como de súbito na vida tudo cansa!
Como de súbito na vida tudo cansa!
E cansa-nos a vida, nos cansamos dela,
ou ela é quem se cansa de nós mesmos,
na teima de existir e desejar?
Porque, neste cansaço, não o que não tivemos,
ou que perdemos, ou nos foi negado,
o que de que se cansa, mas também
o quanto temos, nos ama, se nos dá,
e até os simples gozos de estar vivo.
Um dia é como se uma corda se quebrara,
ou como se acabasse de gastar-se,
que nos prendia a tudo e tudo a nós.
Não é que as coisas percam importância,
as pessoas se afastem, se recusem,
ou nós nos recusemos.
Excerto do poema «Como de súbito na vida...»
in Visão Perpétua de Jorge de Sena