Como num clube de pessoas
«Ser um igual» fora o papel que lhes coubera, e a tarefa a eles entregue - e que agora descobriam não ser essencial. Os dois, condecorados pela vida obediente, graves, correspondiam grata e civicamente à confiança que os iguais haviam depositado neles. Pertenciam a uma casta. O papel que cumpriam, com certa emoção e com dignidade, era o de pessoas anônimas, o de filhos de Deus, como num clube de pessoas.
Talvez apenas devido à passagem insistente do tempo tudo isso começara, porém, a se tornar diário, diário, diário. Às vezes arfante. (Tanto o homem como a mulher já tinham iniciado a idade crítica.)
Eles abriam as janelas e diziam que fazia muito calor. Sem que vivessem propriamente no tédio, era como se nunca lhes mandassem notícias. O tédio, aliás, fazia parte da obediência a uma vida de sentimentos honestos.
in Os obedientes (I)
A Descoberta do Mundo (Crónicas) - Clarice Lispector