20
Ago21
Da ideia ao gesto ou do fazer ao facto
Tu foges, mas circulas em vazios
vácuos estranhos de alma difundida.
E, quando foges novamente, rios
se despenham tranquilos sobre a vida.
E foges sempre; entre rochedos frios
(de coisas que a memória pressentida
em si recolhe) se demoram fios
da linfa límpida por tão perdida.
E foges mais, como o vazio estranho
ao difundir-se de alma se difunde.
Ai não que não nas águas se aprofunde
o nítido perfil do teu tamanho!
Da ideia ao gesto ou do fazer ao facto,
me foges: não visão, mas corpo intacto.
Excerto do poema Corpo Intacto
Fidelidade (1958)
in Poesia II de Jorge de Sena