Desafio de escrita dos pássaros #2
Este texto tem banda sonora.
Por favor, ler ao som da música.
Naquele distante,
quando o teu olhar
tocou no meu, escrituraste o meu ser.
Deixei de me pertencer.
Era já tua sem o saber.
Enlaças-me pela cintura, o meu ar em fuga.
Desfalecida
sem um respiro,
prendes-me a face,
cada cílio teu a tocar nos meus,
naufragando-me
em mares intempestivos só teus.
Mordes-me os lábios rubros,
maçã de Eva trincada em sangue.
És minha
sussurras ao ouvido,
deixando-me cair exangue,
para me agarrares
no último instante.
Num rodopio inconstante
de um acorde de Piazzolla,
agarras-me os cabelos,
flor arrancada
em carinho agreste.
Os nossos passos
cadenciados
num tango de Gardel,
pensamento triste
que se dança
num abraço de vingança.
E atirada ao chão
submissa,
numa obsessão que não é minha,
amas-me de tanto me bater
e eu amo-te no meu doer.
Meretriz de homens inventados,
condenada a desejos teus.
Em todos os meus nãos o teu sim,
será o amor assim,
será o amor assim.