Esquecida na memória de quem a conta e de quem a ouve
Tenho estado a viajar pelo mundo da Gata Borralheira e não tenho partilhado as notas desta viagem por puro esquecimento. À boleia da leitura e do cinema, a palmilhar cada traço, cada curva deste mapa que criei com destino à minha infância.
Após uma intensa busca já consegui finalmente encontrar o filme de 1914 Cinderella de James Kirkwood. Ainda não o vi, mas já está na minha lista cinéfila para ver nas próximas semanas.
Entretanto tenho andado completamente imersa no livro Gata Borralheira e Contos Similares de Francisco Vaz da Silva. Estou maravilhada com as diversas variantes do conto da Gata Borralheira que existem pelo mundo. Cada uma delas incorpora uma lição adaptada à cultura de cada área geográfica onde é contada.
De facto, a literatura oral tem uma riqueza incomparável que demasiadas vezes fica esquecida na memória de quem a conta e de quem a ouve:
Na tradição oral não há textos originais, mas sim variantes que se transformam umas às outras ad infinitum. Quem conta um conto, como diz o provérbio, acrescenta-lhe um ponto; isto é, cada nova variante é sempre constituída a partir de outras que lhe preexistem.
E cada vez que um texto literário, chinês ou de outra proveniência, nos informa de que um certo tema corria de boca em boca num dado sítio em certa data, infelizmente nada nos diz sobre os milhares de outras variantes anónimas que nunca passaram a escrito e sobre as quais, consequentemente, nada sabemos.
in Gata Borralheira e Contos Similares de Francisco Vaz da Silva