Eu vi um sapo, mas Manuel Bandeira viu muitos mais
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
- Manuel Bandeira -
O poema Os Sapos não foi um poema qualquer. Foi o poema, aquele que viria a marcar o novo advento da poesia brasileira.
Quando Manuel Bandeira o escreveu em 1918 não imaginou que se tornaria num clássico da literatura brasileira.
Os Sapos tornaram-se no derradeiro grito de revolta contra a ditadura poética, até então em voga e imposta pelos poetas parnasianos e nada melhor do que lhes copiar o estilo para os criticar.
Manuel Bandeira escreveu propositadamente o poema em estilo parnasiano, contando as palavras para respeitar a métrica regular e escolhendo-as a dedo para manter a sonoridade das rimas. Uma espécie de poema por encomenda, escrevendo versos cheios de ironia, criticando a poesia restritiva de então e parodiando a figura do poeta parnasiano, uma autêntica "máquina de fazer versos".
E quem são os sapos?
Os poetas, claro. Cada sapo, um tipo diferente de poeta, e entre sapos há um diálogo imaginário, em que cada um defende o seu modo de escrever versos.
Tenho quase a certeza que Manuel Bandeira se divertiu à grande a escrever este poema-piada. Apesar da seriedade, conseguiu através do humor criar o que Sérgio Buarque de Holanda definiu como o hino nacional do Modernismo.