Gata Borralheira ou Cinderela?
Não quero para já fazer qualquer paralelismo entre este conto de Sophia e o conto popular que todos conhecemos e que são muito diferentes na sua aparente semelhança.
Creio que é uma daquelas raras oportunidades de escrever sobre um dos contos mais contados, mais lidos e mais sonhados na história da literatura infantil.
Mas por agora vamo-nos centrar no título que tanta confusão tem lançado nos pequenos leitores ao longo de séculos de deslumbramento.
O conto Gata Borralheira é também referido como Cinderela.
Ingenuamente convencida que as capas definiam os livros que lia, durante a minha infância acreditei serem histórias distintas, porque muitas vezes as versões da história não coincidiam, apesar dos finais serem muito semelhantes.
A versão mais antiga é originária da China, datada de 860 a.C., tendo sido ocidentalizada pelo italiano Giambattista Basile - La gatta cenerentola - e foi neste conto que Charles Perrault e os Irmãos Grimm se basearam para escreverem as suas próprias versões, que me levaram erradamente a acreditar que se tratavam de histórias distintas. A título de exemplo, a versão da Disney de 1950 é bastante fiel à de Perrault.
Como viria a descobrir mais tarde ambas as designações estariam correctas, visto que surgiram das traduções que foram efectuadas.
As palavras cenerentola (italiana, versão de Giambattista Basile La gatta cenerentola) e cendrillon (francesa, versão de Charles Perrault Cendrillon), cujos significados remetem para "pequenas cinzas", deram origem a cinderela.
A palavra borralheira deriva de borralho, "brasido coberto com a própria cinza", visto que a personagem principal era assim descrita, como estando suja de cinzas, devido aos trabalhos domésticos que fazia.
Esta significação, a de uma mulher que vem das cinzas, é importante não só na simbologia da história, mas também no próprio conceito social que se generalizou, demasiadas vezes extrapolado e deturpado, mas sobre isso escreverei mais adiante, enquanto me embrenho no conto de Sophia.