Mal sabendo eu que a magia na minha vida tinha verdadeiramente começado
Por vezes, passo pela minha escola primária, uma daquelas escolas antigas que têm duas salas, uma para meninos e outra para meninas, em que o chão de madeira rangia a cada passo que dava, e as janelas eram tão altas que dava para ver o céu, os pássaros e as copas das árvores.
Olho para ela não só como a menina que fui, mas também como o lugar onde nasceu a minha paixão pela leitura e pela literatura. Foi ali, exactamente ali, naquele edifício rodeado de árvores, as mesmas árvores que deram magia às histórias que tanto li.
Recordo-me perfeitamente do dia, em que a Professora Olinda (foi ela que me ensinou a ler) trouxe uma caixa com vários livros e pediu a cada um de nós que se levantasse e escolhesse um. Depois sentou-se na sua mesa placidamente, a ler um livro que tinha demasiadas palavras e nenhuma ilustração colorida, sussurando uns shiu! de vez em quando, olhando da ponta do seu nariz, onde se penduravam os óculos e os seus olhos reprovadores, com a régua (palmatória) ao lado, pronta a ser levantada nas palmas das nossas pequenas mãos, sempre friorentas.
Agarrei no livro que me pareceu o mais mágico de todos - A Fada Oriana de Sophia de Mello Breyner Andresen - mal sabendo eu que a magia na minha vida tinha verdadeiramente começado.