Mário de Andrade | A Escrava que não é Isaura
Mantenho o que tinha escrito anteriormente: A escrava que não é Isaura não é um livro pejado de tecnicismos incompreensíveis e aborrecidos, muito pelo contrário está cheio de reflexões inestimáveis sobre a poesia e a sua evolução. E há reflexões que são verdadeira poesia, apesar de não estarem em verso.
Reflexões que lançam dúvidas e não certezas, porque é delas a base do processo criador. É da incerteza que nascem as possibilidades múltiplas ad infinitum de que a arte é feita. É de incertezas que é feito este livro, como o próprio autor revela:
Cansei-me de ideias e ideais terrestres. Não me incomoda mais a existência dos tolos e cá muito em segredo, rapazes, acho que um poeta modernista e um parnasiano todos nos equivalemos e equiparamos. Ao menos porque estas lutas e mil e uma estesias por uma arte humana só provam uma coisa. É que nós também os poetas nos distinguimos pela mesma característica dominante da espécie humana, a imbecilidade. Pois não é que temos a convicção de que existem Verdades sobre a Terra quando cada qual vê as coisas de seu jeito e as recria numa realidade subjetiva individual!!...