Não basta sentirmos que somos artistas
Na altura em que estás já não precisas de mais lições, de lições de professores de pintura, bem entendido. Estudo por ti e começa. Há um momento em que temos de tomar a decisão de aparecer, e depois verás, é como se tivesses tomado um compromisso, firmado um pacto para a vida toda: do facto de teres aparecido decorrerá para ti como que um processo fatal, a obrigação de continuares a aparecer; é uma afirmação que fazemos continuamente perante nós mesmos e perante os outros.
Não basta sentirmos que somos artistas: temos de prová-lo e de reafirmá-lo constantemente a nós próprios. Também não podes ficar à espera de produzires uma obra-prima para apareceres. Quando sentires que fizeste uma coisa tua, que conseguiste dar forma visível a uma vivência tua, comunica-a. A nossa realização integral como artistas só se dá, precisamente, por um acto de comunicação.
in Regresso ao Caos (1960) de Natália Nunes