Neste momento, [os hipermercados] vendem um terço dos livros em Portugal e o que a maior parte das editoras e grupos editoriais fazem é estar a alimentar esse mercado. Não estamos a falar de literatura, não estamos a produzir mais literatura, apenas a imprimir mais livros.
De facto o livro é um produto, mas algures no tempo já foi uma obra de arte e cada vez mais se está a transformar numa amálgama de páginas escritas sobre nada. Não abomino totalmente a ideia de que um livro possa ser vendido num supermercado, visto que é um local prático e acessível a qualquer leitor, mas de outra maneira, num espaço adequado e não em meras prateleiras ao lado do pão e do talho. A tão aclamada democratização da escrita tem trazido a lume mais livros escritos, mas com cada vez menos qualidade. A ideia de que qualquer pessoa pode ser escritor/a tem vindo a diminuir drasticamente a qualidade do que se lê. Obviamente que qualquer pessoa pode escrever e publicar, mas publicitar a mediocridade como literatura, que é umas das artes nobres da Humanidade, é difícil de aceitar. Aliás, um livro best seller não significa automaticamente que tenha qualidade literária, mas aparentemente todos acreditam que sim, só porque todos o compram.
Nem todos os livros são arte exactamente como nem todos os filmes são arte. Nunca o foram e nunca o serão. Leio menos do que vejo cinema mas o fenómeno é idêntico. Na verdade estou protegida da mediocridade do que se publicia porque compro apenas - ou sobretudo - títulos muito rodados, já em 2ª mão, e que o tempo já justificou como bons livros. Não conheço a maioria dos autores que aparecem nos blogues em divulgação, por exemplo, e são imensos. Há dias calhou-me um livro num sorteio de um blogue. Comecei a ler e já o dei à minha mãe. Enquanto tiver os mais antigos por ler dispenso esses, com algumas excepções, claro. Todas as pessoas podem publicar livros mas isso não as credita automaticamente como escritoras, por muito que lhes custe. Mas, infelizmente, é assim que a maioria pensa. Também sei fazer saias e blusas e isso não faz de mim costureira nem lá perto. No entanto, mesmo essas, podem escrever livros interessantes, não necessariamente arte, mas bem escritos. O pior são ainda as editoras "vanity" que fingem gostar de livros e dos "escritores" mas que na realidade só querem é tratar da vida delas. Fazer literatura é uma arte que não está ao alcance de todos. E ser leitor também exige uma aprendizagem, tal como a fruição de outras artes, é preciso conhecer, desenvolver o sentido de apreciação estética, tal como na pintura. Mas para isso uma pessoa precisa no mínimo de gostar de ler e de ter lido, ter-se formado na arte de ler. E isso hoje é cada vez mais difícil, não? Mesmo com tanto supermercado a vender livros. Parabéns por este blogue. Somos "parceiras" no "Desafio das aves" mas eu nunca lhos dei.