Não estou nada melhor da gripe
São Paulo, 3/10/59
Meu amor, minha querida Mécia
(...) São quatro horas, já passa, e vou sair para deitar-te esta carta no Correio Geral, único sítio em S. Paulo onde se pode deitar uma carta, pois os marcos são raros e não funcionam, e é urgente que a recebas.
Não estou nada melhor da gripe, mas ainda bem que a tive aqui, e não no Rio, onde, se eu ficasse estendido em casa, ninguém daria por isso, nem os amigos que me suporiam partido para cá, sem dar notícia, à brasileira. Não me posso conter de ansiedade em ver-te arrancada daí e às crianças. Logo me sentirei menos só, menos triste, menos angustiado. Que saudades, meu Amor, que vida a nossa! Quantos são bestas e felizes! Nada lhes falta, fazem o que querem e cresce-lhes o tempo! (...)
Beijos, beijos e saudades do teu que te aperta contra o coração
Jorge
in Correspondência Jorge de Sena e Mécia de Sena «Vita Nuova» (Brasil, 1959-1965)
com organização de Maria Otília Pereira Lage