Eu só deito fora coisas pequenas
- A senhora tem medo de que eu deite mais alguma coisa fora? Olhe, minha senhora, fique sabendo, eu só deito fora coisas pequenas, coisas que verdadeiramente não prestam para nada nem para ninguém - e, de repente, mal acabara de dizer estas palavras, deu um pulo para cima do banco que costumava estar encostado à parede da janela. Voltou-se depois para trás e repetiu na sua fraca voz nasalada: Coisas que não prestam para nada nem para ninguém - e, antes que eu tivesse tempo de sair do meu espanto e de reagir, dando um forte impulso ao pequeno corpo, Clastomina arremessou-se a si mesma pela janela fora.
Excerto do conto Clastomina
in Da Natureza das Coisas (1985) de Natália Nunes