A enorme desinquietação que as mulheres introduziram na sua vida
Repito: não foi uma autêntica vocação mística ou monacal o que levou Sebastião Mondeiro a tentar a vida de monge.
Suponho, no seu íntimo existiria desde cedo um conflito ou um problema a necessitar de resolução. A vocação científica, sim, essa precocemente se definiu no rapazinho provinciano, no estudante liceal que, quando em férias, de retorno à aldeia, se entretinha a observar o céu e a rever os exercícios matemáticos; ou na cidade, procurava contactar mestres e frequentar seminários, desprezando grupos de companheiros folgazões, namoradeiros, brigões, convivendo moderadamente com os da sua idade.
Estou convencida, de facto não foi nenhuma vocação religiosa, tão pouco um espírito rigorosamente misantropo que o levaram em determinada altura da carreira de professor e de investigador, a procurar a vida monástica, mas sim a enorme desinquietação que as mulheres introduziram na sua vida.
in Vénus Turbulenta (1997) de Natália Nunes