O grito do Ipiranga de Mário de Andrade
Subestimei Mário de Andrade, confesso.
Estou a adorar lê-lo muito mais do que previra.
É como ler um louco que escreve no êxtase da sua criatividade, riscando o papel com a rapidez da inspiração que se recusa a deixá-lo em paz. E naquele aparente caos de palavras e pensamentos que se atropelam, tudo faz sentido, mesmo quando ele próprio diz que não.
Escolhi propositadamente começar a lê-lo com Pauliceia Desvairada não só porque neste livro ele estabelece as bases do Modernismo, mas também porque analisa o provincianismo cultural que o rodeava naquela época.
Mário de Andrade estava ansioso por quebrar a norma que agrilhoava todos os artistas a uma arte planeada ao centímetro, calculada em cada emoção contida, cada palavra contada pelos dedos.
Pauliceia Desvairada foi o seu grito do Ipiranga e anos mais tarde viria a confessar numa conferência que foi um livro “áspero de insulto, gargalhante de ironia”.