O objectivo a que a humanidade aspira
Não será possível que o homem gosta da destruição e do caos (porque é indiscutível que às vezes gosta muito, nada a fazer) porque tem um medo instintivo de alcançar o objectivo e concluir a construção do edifício? Talvez só de longe goste do edifício e não de perto. Talvez apenas goste de construí-lo e não de viver nele (...).
Mas o homem é uma criatura leviana e pouco escrupulosa e, talvez, à semelhança do xadrezista, apenas goste do processo de ir para determinado objectivo e não do objectivo em si. E quem sabe (não há a certeza) se, talvez, todo o objectivo a que a humanidade aspira na terra consista exclusivamente nesta ininterrupção do processo de ir para um objectivo (...) na realidade, tem medo de encontrá-lo, juro. Porque sente que, quando o encontrar, não haverá mais nada para procurar (...).
E o nosso homem, para onde vai? Transparece-lhe sempre, pelo menos, um qualquer embaraço quando alcança os objectivos. Gosta de consecução, mas não gosta de conseguir - é, sem dúvida, muito engraçado.
Fiódor Dostoiévski-Cadernos do Subterrâneo