18
Jun21
O pensamento escuta em meus ouvidos
Severa inspiração, pausa infinita,
ó forma prenhe e astuta, meu tormento,
doçura que o olhar move e limita,
soluço estreme, de escoar-se lento,
eu sei, eu sinto, eu vejo como o vento.
Como de aragem meu olhar não fita,
que quanto em só palavras luz reflita
eólio seja e não meu pensamento.
Vibram as coisas, soam os sentidos,
e o pensamento escuta em meus ouvidos
o mundo em sonho ao sopro do pensar.
Severa - ó forma -, harpeja as negações.
Não és, não foste, nem serás visões.
Negá-las-ei, se me cansar de olhar.
Poema Harpas Eólias
Pedra Filosofal (1950)
II Poética
in Poesia I de Jorge de Sena