30
Jul24
O sonho custa a domesticar
Quando o tio (o avô) se cala, há um estrondo maior; depois, o quarto sossega pouco a pouco. Abre os olhos, ainda receoso. Papéis adejam lentamente (como se boiassem) no ar cinzento de poeira, e afundam-se, poisam em livros esfrangalhados, cacos de porcelana, vidros, desperdícios. Uma última folha baloiça sobre o colete às riscas, mas de súbito agita-se, torna a subir, alcança o tecto com o impulso da voz ofegante (soprando agora o chão):
- Já calculava. O sonho custa a domesticar.
in Finisterra (1978) de Carlos de Oliveira