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Dez22
Por que haviam eles de acontecer-me a mim?
E, se eu não sabia nada de versos, nem particularmente apreciava «poesia», por que haviam eles de acontecer-me a mim?
Ter escrito aquilo não me dava satisfação alguma. Pelo contrário, despertava-me uma sensação de perplexidade, como se uma nova responsabilidade, que eu não solicitara a mim mesmo, estivesse a formar-se na minha consciência: a de escrever quando sentisse aquela expectativa ansiosa a brotar de um vazio, e a de supor ou forçar a suposição de que aquilo significava alguma coisa para mim ou para os outros.
in Sinais de Fogo de Jorge de Sena