Sena não se coibia de criticar, por vezes ferozmente, a cena cultural do país
A relação de J. Sena com o Portugal dito culto sempre foi complicada. Por um lado, Sena não se coibia de criticar, por vezes ferozmente, a cena cultural do país. Ele próprio o disse: “não perdoo a ninguém a mediocridade, a estupidez, a vileza, a malignidade, a incultura, a suficiência, a intolerância, o espírito de compromisso, a cobardia moral". Alvo de críticas violentas, boa parte do meio intelectual português não encarava Sena como “persona grata”.
A revista “O Tempo e o Modo” dedicou-lhe em 1968 um número inteiro – mas era uma exceção. Depois do 25 de Abril de 1974 Jorge de Sena veio a Portugal na esperança de ser convidado por alguma universidade. Mas fecharam-lhe as portas, nomeadamente as da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Este lamentável facto acentuou a amargura de J. Sena. Doía-lhe profundamente não ser reconhecido na sua pátria.
Sena foi – hoje é difícil negá-lo – uma pessoa superior. Talvez devesse não valorizar tanto o reconhecimento dos portugueses, ou melhor, a falta dele. Mas este sentimento é muito português.
in Jorge de Sena de Francisco Sarsfield Cabral