A revolução de Outubro está na base de uma nova descolagem espiritual do poeta e da sua actividade civil. Em 1917, ele chama directamente a "ouvir a música da revolução".
Blok simbolista procurava agora um novo simbolismo social nos acontecimentos que ocorreram. Em Janeiro de 1918, escreve os poemas Os DozeeOs Citas, e também o artigo jornalístico Os Intelectuais e a Revolução.
Blok pensava que a revolução levaria a desconhecidos, mas belos objectivos; que a revolução era uma fúria triunfante, um fogo purificador, no qual pereceria o velho mundo.
Ao convidar personalidades da cultura para participar na construção de um novo mundo, o próprio poeta trabalhou na Comissão Estatal para a publicação dos clássicos da literatura russa, na secção de repertório do departamento teatral da Narkompros (Comissariado do Povo de Educação) e colaborou na editora "Literatura mundial", a qual era dirigida por Gorki.
Mas, em breve, a decepção na encarnação real dos slogans pomposos da revolução, os acontecimentos da Guerra Civil e o início da Nova Política Económica (NPE), na forma de retracção da "onda revolucionária", e os confrontos com a poderosa máquina da nova burocracia levariam Blok a uma crise criativa, fazendo com que quase deixasse de escrever poesia lírica. Os anos de 1920-1921 foram permeados por um clima de profunda depressão, pelo trágico da percepção do mundo, passando por um agudo desencanto perante a realidade.
Da poesia de Blok para uma das suas peças de teatro, não deixa de ser estranha a sensação de um poeta sair de si próprio e escrever dramaturgia. As suas palavras nas bocas de outros, exibidas em palco, olhos nos olhos com o seu público.
Ramsés, retrata cenas da vida do Antigo Egipto. Uma alegoria política e social tão visual que conseguimos ouvir o burburinho dos bazares, as cores das especiarias e dos tecidos, o ocre do tempo.
Blok não foi apenas um dos maiores poetas, mas também um dos maiores dramaturgos, representante do simbolismo russo. Apesar de escrever poesia desde os 5 anos, tornando-se a expressão poética a norma da sua vida, Blok sempre sonhou um dia conquistar o palco.
Os anos de 1906-1907 foram um ponto de viragem para Blok, por se tratar de anos de reavaliação de valores e dissipação de ilusões. O poeta vira-se para a dramaturgia, pois, há muito tempo, que era afeiçoado ao teatro. Quando Blok sentiu o desejo e a necessidade de dizer novas palavras na sua obra, o género teatral tornou-se numa forma natural. Em 1906, Blok escreveu três dramas líricos: A Desconhecida (que desenvolvia o tema do poema homónimo), O Rei na Praça (a negação moderna dos cânones do passado) e O Teatro de Feira (uma rejeição das velhas crenças e viragem para a realidade).
A primeira colecção de poemas de Blok - Versos a uma senhora encantadora - saiu em 1904 e foi escrita sob a influência do primeiro amor e dos primeiros meses de uma vida familiar feliz (casou em 1903 com Liubov Mendeleieva, filha do grande químico russo Dmitri Mendeleiev).
Os poemas desta colectânea representam o seu idealismo platónico e a implantação da sabedoria divina na alma do mundo, através da revelação feminina.
in O Fantasma no Palácio dos Engenheiros e outro Contos Russos
Antologia coordenada por Leonor Abecassis, Isabel Oliveira Martins e Larissa Shotropa
Assinatura de Aleksandr Blok in commons.wikimedia.org
A sua poesia inicialmente foi dominada pela busca da beleza ideal.
Som, ritmo, cor e repetição desempenharam um papel crucial na definição do tom e da expressão da emoção.
Mais tarde, o foco mudou para a descrição da psicologia humana e a sua escrita tornou-se mais irónica e pessimista, pelo desencanto da vida quotidiana e a sua busca por um ideal.
Nos últimos anos, viria a escrever predominantemente sobre temas políticos e sobre as mudanças que assolavam a Rússia.
Ainda hoje, é considerado por muitos, um dos mais importantes poetas russos desde Pushkin, e a sua obra viria a ter um grande impacto em Anna Akhmatova, Boris Pasternak e Marina Tsvetaeva, entre outros poetas proeminentes da Era de Prata.