Estas histórias que estou a ler de Pushkin surpreendem-me a cada página que viro.
Esta que comecei a ler - The Station-Master - colocou imediatamente um ponto de interrogação ao meu pensamento: porque raio Pushkin iria escrever sobre os chefes de estação?
Obviamente que alguém como ele pode dar-se ao luxo de escrever sobre o que quiser, ainda assim decidi pesquisar pela estranheza do tema e prontamente fui esclarecida pelo próprio, que revela a sua empatia por quem exerce a profissão:
A few words more: during twenty years in succession I have travelled up and down Russia in all directions; I have been on almost all the posting routes; I have known several generations of drivers; there are few station-masters whose faces are not familiar to me and with whom I have not had something to do; I hope to publish in the near future an interesting collection of my travelling impressions; meanwhile I shall only say that the class of station-masters has been grossly misrepresented to the public.
He has no rest either by day or by night. Travellers vent upon him all the annoyance accumulated during their tedious journey: the weather is unbearable, the roads are bad, the driver is obstinate, the horses don't go - and it is all the station-master's fault. Coming into his poor dwelling, the traveller looks upon him as an enemy.
Atravessei-a com coragem e sem medo. Sem medo e sem culpa, com um punhado de versos de Pushkin.
Querendo descobrir o que se esconde por detrás das palavras que escreve, de onde vêm elas, como as escreve, roubei o direito proibido de extrapolar os versos do poeta para o seu dia-a-dia de escrita.
Se nestes versos Pushkin não escreve sobre o seu processo de escrita, quero fingir que sim:
And I forget the world, in blissful peace
I am sweetly lulled by my imagination,
and poetry awakens in me then;
my soul, hard pressed by lyric agitation,
trembles, resounds and seeks as if in sleep
to surface finally in free expression -
and I receive a host of guests unseen,
old-time acquaintances, fruits of my dreams,
and in my head thoughts spring into existence,
and rhymes dance out to meet them, and the hand
stretches towards the pen, the pen to paper,
and unimpeded verse comes pouring out.
So a ship, motionless in motionless water,
lies dreaming, then suddenly the sailors, the vessel
Apesar de inacabada esta história tem um valor incalculável, não só pelo retrato histórico da sociedade russa, mas também pelo seu carácter biográfico.
Belinsky, um dos mais influentes críticos literários, comentou que:
Se este romance tivesse sido concluído, teríamos um romance histórico supremo, retratando as maneiras e os costumes da maior época da história russa.
Já tinha referido anteriormente que Peter the Great's Negro é a história baseada na vida do trisavô de Pushkin.
Pedro I é a personagem principal e todas as personagens da história giram em torno dele e dos últimos dias do seu reinado.
Reza a história real que Pedro, o Grande, estaria em Londres, na corte inglesa, em negociações diplomáticas quando se encantou por um menino africano que vivia no palácio de Jaime II que insistiu em adoptar. Mas há muitas outras versões de como o czar acabou por apadrinhar um menino negro.
Seja qual for a verdadeira história, Pushkin escreveu-a com um colorido histórico excepcional, descrevendo ao pormenor a sociedade russa, levando-nos numa viagem no tempo.
Infelizmente permaneceu inacabada por motivos desconhecidos, o que tem gerado muitas teorias controversas. Uma delas é que Pushkin terá parado de escrever, porque não queria descrever os tempos em que o seu antepassado caíra em desgraça, depois da morte do czar.
Segundo um amigo de Pushkin - A. Wulf - a narrativa já estaria planeada:
A infidelidade sexual da esposa do mouro, que dá à luz uma criança branca e é punida, sendo banida para um convento.