A sua profissão como médico trouxe-lhe um certo número de revelações e experiências que transcreveu nos seus livros.
Oh sim, oh sim, passei trinta e cinco anos a praticar medicina, e isso conta. Corri muito na minha juventude. Subíamos muitas escadas, víamos muita gente. Ajudou-me muito sob muitos aspectos, devo dizer. Sim, enormemente. Mas não escrevi nenhum romance médico, isso é um aborrecimento abominável ... como Soubiran.
Sentiu a sua vocação médica muito cedo na vida, e mesmo assim começou de forma completamente diferente.
Oh, sim. E como! Queriam transformar-me num comprador. Num vendedor de um departamento de uma loja! Não tínhamos nada, os meus pais não tinham meios, percebe? Comecei na pobreza e é assim que vou acabar.
Louis-Ferdinand Céline em entrevista
Tradução livre do inglês de entrevista a Céline por Jacques Darribehaude and Jean Geunot in The Art of Fiction No. 33-www.theparisreview.org
Bem, nunca acho eu. Porque o que precisamos, quando envelhecemos... Se me dessem um monte de massa para ser livre de querer - iria adorar - aposentava-me e ia para algum lugar, assim não tinha de trabalhar e podia ver os outros. A felicidade seria estar sozinho à beira-mar e ser deixado em paz. E comer muito pouco; sim. Quase nada. Uma vela. Não viveria com electricidade e coisas. Uma vela! Uma vela e leria o jornal. Outros, vejo-os agitados, acima de tudo excitados pelas ambições; a sua vida é um espectáculo, os ricos trocando convites para acompanhar o seu desempenho. Já o vi, vivi uma vez entre as pessoas da sociedade - "Eu digo, Gontran, ouça o que ele lhe disse; oh, Gaston, estava realmente em forma ontem, eh! Disse-lhe o que era o quê, eh! Ele falou-me sobre isso ontem à noite! A esposa dele estava a dizer, oh, Gaston surpreendeu-nos!" É uma comédia. Eles passam o tempo todo nisto. Atrás uns dos outros, encontrando-se nos mesmos clubes de golf, nos mesmos restaurantes.
Se pudesse ter tudo de novo, escolheria as suas alegrias fora da literatura?
Oh, absolutamente! Eu não peço alegria. Eu não sinto alegria. Apreciar a vida é uma questão de temperamento, de dieta. Temos de comer bem, beber bem, então os dias passam rapidamente, não é? Comer e beber bem, dar uma volta de carro, ler alguns jornais, o dia passa logo. O teu jornal, alguns convidados, café pela manhã, meu Deus, é hora de almoço quando tiveste o teu passeio, eh? Ver alguns amigos durante a tarde e o dia foi-se. À noite, cama como de costume e fechar os olhos. E ali estamos. E mais ainda com a idade, as coisas aceleram, não é? Um dia é infinito quando somos jovens, enquanto que quando envelhecemos é muito breve. Quando estamos aposentados, um dia é um flash; quando somos crianças, é muito lento.
Louis-Ferdinand Céline em entrevista
Tradução livre do inglês de entrevista a Céline por Jacques Darribehaude and Jean Geunot in The Art of Fiction No. 33-www.theparisreview.org
Às primeiras nunca devemos acreditar na infelicidade dos homens. Devemos apenas perguntar-lhes se ainda conseguem dormir... Se conseguem, está tudo bem. Não é preciso mais.