Apesar de ser uma leitura experimental tenho tentado ler este livro de auto-ajuda de uma forma imparcial e científica.
A imparcialidade nota-se no sarcasmo do que estou a escrever agora mesmo e a cientificidade nota-se pelo meu cabelo despenteado à Einstein.
Dizem que todas as leituras contribuem para a nossa evolução como leitores, mesmo aquelas das quais não gostamos. Só que não. Especialmente quando a minha mãe olha para o livro e me elogia por finalmente estar a ler um livro que pertence a este século. E por ser colorido.
Houvesse dúvidas e elas foram completamente aniquiladas pela primeira parte que aborda os hábitos individuais e como uma criatura de hábitos, adormeci várias vezes.
Mais valia ter aceite o convite para o grupo do whatsapp da Bimby sem Limites e tornar-me numa Bimboca. Não se preocupem, recusei. Continuo a ser fiel aos meus princípios de não ter um bicho desses cá em casa.
Entretanto ando a aplicar o método do Carlitos (é assim que carinhosamente chamo ao Charles Duhigg) e - spoiler alert - já roí as unhas incontáveis vezes. Fiz de propósito só para não lhe dar razão.
Mas do que estou a gostar mais é da segunda parte, sobre os hábitos organizacionais. Oh, se estou!
Encontramos hábitos organizacionais destrutivos em centenas de ramos de actividade e em milhares de empresas. E, quase em todos os casos, eles resultam de falta de planeamento, de lideranças que não pensam a cultura da empresa e permitem que ela se desenvolva sem orientação.
Quando se pede às pessoas que realizem uma tarefa que exige autocontrolo, ela é-lhes muito menos penosa quando sentem que a fazem por opção própria ou lhes dá prazer fazer para ajudar outra pessoa. Se sentirem que não têm autonomia, se se limitarem a obedecer a ordens, os músculos da força de vontade cansam-se muito mais depressa.
Em 1845 Smiles proferiu um discurso que dizem ter sido a inspiração para a escrita do seu livro Auto-Ajuda:
I would not have any one here think that, because I have mentioned individuals who have raised themselves by self-education from poverty to social eminence, and even wealth, these are the chief marks to be aimed at. That would be a great fallacy. Knowledge is of itself one of the highest enjoyments. The ignorant man passes through the world dead to all pleasures, save those of the senses ... Every human being has a great mission to perform, noble faculties to cultivate, a vast destiny to accomplish. He should have the means of education, and of exerting freely all the powers of his godlike nature.
O mundo editorial não quis investir na estranheza do seu livro e quando tentou que este fosse publicado, rejeitaram-no.
Decidiu então auto-publicar-se.
Vendeu 20.000 cópias num só ano.
Tornou-se uma celebridade, um guru e o seu livro passou a ser conhecido como a "bíblia do liberalismo vitoriano".
É assim que a força de vontade se torna um hábito: optando antecipadamente por determinado comportamento e obedecendo depois a essa rotina quando o ponto decisivo acontece.
«Quando aprendemos a obrigar-nos a frequentar o ginásio ou a fazer os trabalhos de casa, ou a comer uma salada em vez de um hambúrguer, parte do que acontece é que alteramos a nossa maneira de pensar», diz Todd Heatherton, investigador de Dartmouth, que tem feito pesquisa sobre a força de vontade.
«As pessoas progridem no controlo dos seus impulsos. Aprendem a distrair-se das tentações. E quando se entra nesse caminho de força de vontade, o cérebro aprende a concentrar-se em determinados objectivos.»