Estas crónicas escritas por Clarice Lispector, de 1967 a 1973, eram publicadas todos os sábados no Jornal do Brasil.
Escreveu sobre tudo: sobre si como mulher, como mãe e dona de casa, sobre os amigos, as viagens de táxi, da sua infância e sobre o mundo:
Ainda continuo um pouco sem jeito na minha nova função daquilo que não se pode chamar propriamente de crónica. E, além de ser neófita no assunto, também o sou em matéria de escrever para ganhar dinheiro.
Já trabalhei na imprensa como profissional, sem assinar. Assinando, porém, fico automaticamente mais pessoal. E sinto-me um pouco como se estivesse vendendo minha alma. Falei nisso com um amigo que me respondeu: mas escrever é um pouco vender a alma. É verdade. Mesmo quando não é por dinheiro, a gente se expõe muito.
Embora uma amiga médica tenha discordado: argumentou que na sua profissão dá sua alma toda, e no entanto cobra dinheiro porque também precisa viver. Vendo, pois, para vocês com o maior prazer uma certa parte da minha alma - a parte de conversa de sábado.
Todas as pessoas que não compreendem a vida pensam que a vida é feita de sucessos.
Essas mesmas pessoas adoram Van Gogh porque ele cortou a orelha; Toulouse-Lautrec porque era anão; Modigliani porque era turberculoso; Rembrandt porque morreu de fome; James Dean porque morreu na estrada; Marilyn Monroe porque se suicidou.
Todas essas pessoas acreditam na posteridade porque acreditam que são a posteridade.
in Quase briga entre amigos
A Descoberta do Mundo (Crónicas) - Clarice Lispector
Perto do Coração Selvagem, espectáculo de Fauzi Arap encenado entre os anos de 1965 e 1966 no teatro da Maison de France, reuniu trechos do livro homónimo (a estreia de Clarice, de 1944), A Paixão segundo GH e A Legião Estrangeira.
No elenco, Glauce Rocha, Dirce Migliaccio, um estreante José Wilker e o próprio Fauzi Arap revezam-se em pequenos monólogos, classificados por alguns jornalistas como declamações.