Sena é um autor complexo e vasto. Um mundo inteiro cabe nele.
Não só pela vastidão dos temas sobre os quais escreveu ― Amor, Liberdade, Justiça, Humanidade entre outros ― mas também pelas diferentes formas como os expressou ― poesia, romance, contos, teatro, crítica, tradução.
Sena foi mais do que um autor, foi o intelectual que Portugal teve o privilégio de ter. Porque Sena escrevia não apenas pelo prazer de escrever, mas para apreender o mundo, estudá-lo, compreendê-lo e quiçá utopicamente solucioná-lo.
Talvez tenha sido essa vontade utópica que o fez elevar a crítica a um outro nível a que Portugal não estava habituado. Aliás, ainda não está.
A sua crítica nasce do seu poetar, porque enquanto criava poesia, reflectia dentro de si e contemplava tudo à sua volta. Por isso, poesia e crítica em Sena são uma só, porque é do poeta que todas as perspectivas e todas as possibilidades brotam.
O Caminho para a Distância revela, no próprio título, a espiritualidade que nos espera no interior das suas páginas.
Vinicius escreveu este seu primeiro livro de poesia imbuído pelas ideias dos intelectuais católicos e metafísicos do Rio de Janeiro.
Nos seus longos versos sobre os tormentos da alma e os seus conflitos internos encontramos um poeta ainda tímido, que observa o mundo através da fé, sem nunca perder o conturbado ponto de vista da alma.
Vinicius em nota introdutória explica a sua génese deste seu primeiro livro:
Este livro é o meu primeiro livro. Desnecessário dizer aqui o que ele significa para mim como coisa minha — creio mesmo que um prefácio não o comportaria normalmente.São cerca de quarenta poemas intimamente ligados num só movimento, vivendo e pulsando juntos, isolando-se no ritmo e prolongando-se na continuidade, sem que nada possa contar em separado. Há um todo comum indivisível. Seus defeitos de ideia são os meus defeitos de formação. Seus defeitos de construção são os meus defeitos de realizador. Eu o dou tal como o fiz, com todos os arranhões que lhe notei na fixação inicial, virgem de remodelações, na mesma seiva em que sempre viveu. Ofereço-o aos meus amigos. V.M. Rio, 1933
O meu plano era ler apenas três livros de Mário de Andrade, mas à medida que o lia o fascínio ia crescendo. E de três passaram a oito.
Apesar de ter escrito muitos livros sobre vários temas, incluindo música e arte, decidi não os ler, por não se incluirem na linha de leitura que pretendia fazer, mas abri uma excepção: A Escrava que não é Isaura.
E porquê?
Porque foi escrito em pleno auge da euforia do modernismo brasileiro. O seu subtítulo esclarece de imediato a sua natureza: Discurso sobre algumas tendências da poesia Moderna.
Este subtítulo faria adormecer o mais desperto e paciente dos leitores, mas nada há a temer. Não é um livro pejado de tecnicismos incompreensíveis e aborrecidos, muito pelo contrário está cheio de reflexões inestimáveis sobre a poesia e a sua evolução. E há reflexões que são verdadeira poesia, apesar de não estarem em verso.
O saudosismo cai sobre mim sempre que me encontro nas últimas páginas de um livro e é nesse estado que me encontro, com o final de Há uma Gota de Sangue em Cada Poema, o primeiro livro de poesia de Mário de Andrade.
Em cada poema há uma gota de sangue derramada por todos os que sucumbiram às garras da Primeira Guerra Mundial. Cada poema uma reflexão, uma crítica, um lamento perante uma guerra avassaladora que matou a Humanidade. Poemas frios, sombrios, muito sós, como os seus combatentes.
Escreveu-os sob o pseudónimo de Mário Sobral, talvez por ser um manifesto antibelicista e pacifista contra uma guerra que considerava absurda em que até os passarinhos riem desumanos.
São poemas imaturos, por serem os primeiros, como Mário de Andrade os viria a descrever mais tarde, mas serão eles a marcar o início do seu percurso poético.
O primeiro livro de Vinicius de Moraes que estou a ler, foi publicado enquanto o poeta estudava na Faculdade de Direito do Catete, no Rio de Janeiro.
O Caminho para a Distância, apesar de marcar o início da poesia de Vinicius, viria a ser renegado pelo poeta anos mais tarde.
Contam que Américo Jacobina Lacombe, seu colega, desaconselhou-o a seguir a carreira de poeta:
Você é inteligente, mas não tem jeito algum para poeta. Para ser poeta é preciso ser sonhador e viver com a cabeça nos ares. Você é realista demais para isso.
"Estes olhinhos de gato — que não se esquecem... não se esquecem..." E apertando-lhe o queixo ainda tornava:
"Parecem mesmo uns olhinhos de gato!"
A quem queira viajar pelas páginas de Cecília Meireles - a pastora de nuvens - deixo um conselho: leiam Olhinhos de Gato. E porquê? Porque é especial. Mais do que especial, é essencial para compreender profundamente Cecília.
São 13 capítulos que a poeta ia escrevendo e publicando na revista Ocidente, de Lisboa, durante os anos de 1939 e 1940 e que mais tarde foram reunidos em livro.
Ao longo das páginas damos a mão a uma menina chamada Olhinhos de Gato (o cognome que Cecília atribuiu a si própria) que nos conduz pelos caminhos e peripécias da sua infância, da infância da própria poeta com a sua avó Jacinta.
Todas as personagens principais - pessoas reais que conviveram com a Cecília menina - têm cognomes: a avó Jacinta, com quem viveu depois da morte dos pais, é Boquinha de Doce; a ama é Dentinho de Arroz. E todas elas fazem parte da história de Cecília e da sua futura poesia, cujos versos estariam sempre de olhos postos nas nuvens para as quais a menina olhava.
Olhinhos de Gato não é apenas a história da infância de Cecília, é também a da sua poesia, por isso é que é tão especial.
Além de uma história de família, já passada de geração em geração, a aventura de Jan com o urso e a expulsão do navio inspiraram um dos textos mais claramente autobiográficos de Sophia, o conto «Saga», publicado no livro Histórias da Terra e do Mar, em 1984.
(...)
Em entrevista de 1985, Sophia admite que o conto «Saga» nasceu de uma história de família:
O meu bisavô veio realmente de uma ilha na Dinamarca, embarcado à aventura e foi assim que acabou por chegar ao Porto. O episódio da saga com o capitão, o do número de circo com a pele de urso no cais, o abandono do navio - tudo isso aconteceu de facto.Também são verdadeiras as palavras que ele disse, mais tarde, a uma das netas: "O mar é o caminho para a minha casa".
in Sophia de Mello Breyner Andresen de Isabel Nery
Em quase tudo o que escrevia, a Grécia espraiava-se ao sol das suas palavras, especialmente nos livros Dia do Mar e Coral, em Geografia e sobretudo em Dual. Aliás, Dual é o livro do seu grande encontro com a Grécia.
Em pequenos apontamentos ou num poema inteiro, a sua amada Grécia estará para sempre consigo.