Tal como todas as outras artes, a poesia tem a sua técnica. Claro que qualquer um pode escrever algumas linhas e chamá-lo de poema, mas um poema é muito mais que algumas linhas.
Aliás, quem quiser iniciar-se na escrita deve começar por escrever poemas.
E porquê?
Num poema tem de caber muito com poucas palavras. Não há melhor exercício para a prática da escrita do que concentrar em poucas linhas histórias, paisagens, emoções. Um poema não permite excessos, palavras aprisionadas, nós por desatar. Metaforicamente permite, mas isso serão outros instantes da minha estante.
Para escrever poesia há que escutar e não inventar.
E nas intermitências do cantar e do conversar escreve-se um poema.
Longe de mim tentar definir uma arte como a poesia. Aliás, as definições são o que são: inevitáveis.
E se ainda assim insistirmos em defini-la, podemos sempre questionar directamente o poeta. Teremos tantas respostas, quantos poetas que a escrevem.
E se questionarmos os leitores, iremos obter as sensações que a poesia lhes provoca e raramente uma definição.
E se viajarmos no tempo, percebemos que os gregos serviram-se também da forma poética para registar eventos históricos.
O que é, afinal, a poesia?
A resposta mais exacta e precisa surgiu quando menos a esperava. Não me recordo da sua autoria, mas é a definição perfeita para quem, como eu, não gosta de definições:
Quero acreditar que não é por acaso que o Dia Mundial da Poesia se celebre em plena Primavera. É a mais ilusiva, a mais ambígua das artes escritas, que sempre renasce por mais séculos que por ela passem. Confunde e enlouquece, mas também ilumina e toca quem a lê.
Para verdadeiramente a apreciarmos há que nos deixarmos cair num estado de anarquia, abolir as regras do entendimento narrativo, ler sem rédeas e sentir. Apenas sentir e nada mais.
A cada verso os sentidos aparecem, diferentes para quem os lê e para quem os escreveu. E se não fizer sentido ainda melhor.
Podemos saltar páginas, explorar os confins da última e regressar à primeira, sem que o delicado equilíbrio da leitura se quebre.
Um livro de poesia é interminável e não, não podemos ser levianos ao ponto de dizer que o lemos. A cada nova leitura surgirá um novo livro, sendo ele o mesmo. Os poemas ganharão novos significados ou talvez nenhuns. A poesia metamorfoseia-se a cada nova leitura, organicamente transformando-se num novo ser vivo.
Arranged in words, coloured with images, struck with the right meter, poetry has a power that has no match. This is the power to shake us from everyday life and the power to remind us of the beauty that surrounds us and of the resilience of the human spirit.
— Audrey Azoulay, UNESCO Director-General, on the occasion of 2020 World Poetry Day
A poesia tem sido a arte perfeita para os dias que, de tão cinzentos, escondem o horizonte e o que está para além dele. As suas palavras têm uma precisão absoluta e bastam poucas para dizer tudo. Tão perfeita que é capaz de se transmutar em imagem ou em música.
Um poema é tão pequeno, mas capaz de albergar uma alma inteira de emoções que nem chegam a ser palavras, mas humanidade na sua forma mais pura. É orgânico, mutável, sensível. Não morre, transforma-se, como tudo na natureza.