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Livrologia

Livrologia

08
Jun23

Pela primeira vez, em toda a minha vida de leitora, li um premiado Pulitzer

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Ao criar um ciclo de leitura de premiados Pulitzer decidi dar o primeiro passo, num caminho iniciático peculiar, pela literatura dos Estados Unidos. Sei que há grandes nomes por onde poderia ter começado como Edgar Allan Poe, Emily Dickinson, Walt Whitman, William Faulkner entre tantos outros, mas escolhi começar desta forma.

Pela primeira vez, em toda a minha vida de leitora, li um premiado Pulitzer e, logo o primeiro de todos eles: His Family de Ernest Poole.

Pesei o contexto histórico e a intenção do autor, mas ainda assim Poole não me encantou. Ao explorar a mente de um homem, cujas três filhas crescem e mudam com os novos tempos, Poole coloca a eterna questão existencial se as mudanças acontecem para melhor ou para pior. Tal como Os Irmãos Karamazov de Dostoiévski cada uma das suas três filhas representam três modos diferentes de se viver a existência, como mãe, como activista e como um espírito livre. E é através da família que as grandes mudanças sociais e económicas, que ocorrem com a Primeira Guerra Mundial, são analisadas, o que torna o tema da reforma social, que Poole gosta tanto de advocar, mais real e pessoal e não um mero relato jornalístico.

Há pequenos precisosismos da época que achei interessantes como o relato de alguns momentos da história de Nova Iorque, o aparecimento dos novos subúrbios da cidade, a mecanização da agricultura, a liberdade sexual feminina. O que achei mais engraçado foi o optimismo e a esperança com que o autor encara a Primeira Guerra Mundial, esperando um desenlace rápido e pacífico, quando no futuro iria ocorrer uma Segunda Guerra Mundial.

Do ciclo de leitura Pulitzer assim estão as minhas leituras:

De Ernest Poole:

  • acabei de ler His Family

 

De Booth Tarkington:

  • comecei a ler The Magnificent Ambersons
27
Mai23

Ernest Poole | His Family

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Publicado em 1917 e vencedor do Pulitzer em 1918, His Family de Ernest Poole foca-se nas mudanças que ocorrem numa família americana entre 1880 e 1910, à medida que enfrentam os novos desafios da modernidade e as radicais mudanças sociais.

Foi considerado um dos primeiros romances realistas americanos a retratar a vida da classe média alta em Nova York, e foi elogiado pela crítica pela sua capacidade de mostrar o impacto da industrialização e da urbanização no dia-a-dia das pessoas.

Se é uma obra extraordinária? Não.

Considerando o contexto histórico em que foi publicado e apesar de ter sido inovador ao explorar as tensões entre a tradição e a modernidade através do olhar das suas personagens, não me convenceu.

Umas das particularidades que mais me irritou neste livro é que tudo tem de ter um significado, tudo está fortemente focado nas ideias que o autor quer transmitir, tudo tem de ser repetido uma e outra vez até à exaustão. Muitas vezes fechei o livro, porque já não conseguia ler mais sobre esta imposição ideológica da vida, do progresso ou da família.

Chegou a ser bizarro estar a ler um livro aclamado por reflectir sobre as tensões sociais e culturais da época, quando na realidade senti que esta reflexão era mais um meio de instruir o leitor a seguir uma determinada ideologia.

27
Mai23

New York was like that

And it came to his mind that New York was like that—no settled calm abiding place cherishing its memories, but only a town of transition, a great turbulent city of change, restlessly shaking off its past, tearing down and building anew, building higher, higher, higher, rearing to the very stars, and shouting,  "Can you see me now?" What was the goal of this mad career? What dazzling city would be here?

in His Family de Ernest Poole

23
Mai23

Porque é que a escrita de Poole é considerada inovadora

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Considerando os grandes clássicos de literatura que já li, tenho tendência a menosprezar a literatura norte-americana. Não é que a considere menor, simplesmente não exerce em mim o fascínio que espero dela. Talvez tenha criado expectativas irrealistas ou talvez ainda não tenha lido os autores certos como Poe, Hemingway, Steinbeck, Melville, Elliot e tantos outros.

Talvez esteja a subestimar His Family de Ernest Poole e a desvalorizar o seu carácter inovador.

Aliás, o seu carácter inovador advém do facto de ter sido um dos primeiros escritores americanos a explorar temas sociais e políticos, particularmente a luta de classes, a desigualdade económica e social, as tensões raciais e as mudanças culturais que ocorreram nos Estados Unidos no início do século XX.

Poole quis dar voz às classes trabalhadoras, criando personagens que reflectissem os trabalhadores portuários, operários fabris e outros membros da classe trabalhadora, que raramente eram retratados na literatura da época. Escreveu de uma forma realista sobre as suas vidas, esperanças e desafios, tornando-se numa voz representativa daqueles que lutavam por uma vida melhor.

O seu estilo simples e directo foi considerado moderno, comparativamente aos excessos linguísticos e expressivos que eram muito utilizados na literatura da época, tornando a sua escrita acessível a um público mais vasto.

21
Mai23

O que tem His Family assim de tão especial para ser vencedor de um Pulitzer?

logo.jpgAté que ponto His Family mereceu ganhar o Pulitzer? Ou terá sido Ernest Poole premiado com o livro errado?

Estas são as questões que me atormentam à medida que me aproximo das últimas páginas do livro.

Apesar de Ernest Poole ter sido um escritor de sucesso na sua época, foi caindo completamente na obscuridade ao longo do tempo. E se algum leitor deste blog já ouviu falar dele - ponham o dedo no ar! - terá sido simplesmente por ser o primeiro escritor a ganhar um Pulitzer.

Ainda assim, vamos dar-lhe a benesse de poder ser remotamente recordado pelo seu The Harbor que se tornou num livro de culto e um dos mais elogiados da sua carreira como escritor.

Aliás, ainda hoje se comenta entre as hostes literárias que Ernest Poole ganhou o Pulitzer por The Harbor e não por His Family

Então porque raio não ganhou The Harbor o prémio?

A resposta é simples: The Harbor foi publicado em 1915, um ano antes da existência do Pulitzer e acredita-se que, se tivesse sido publicado em 1916, ano da primeira atribuição do prémio, teria ganho.

Especulações à parte, o que tem His Family assim de tão especial para ser vencedor de um Pulitzer?

Quando foi publicado, a sociedade estava a atravessar mudanças drásticas depoletadas pela Revolução Industrial.  Estruturas sociais consideradas tradicionais e imutáveis ruíram e Roger Gale, a personagem principal, personifica-as, um homem envelhecido à deriva, sem amarras, num mundo que não compreende mais.

13
Mai23

A realidade, mesmo fictícia, tem vontade própria

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O enredo de His Family de Ernest Poole é provavelmente a sua maior fragilidade.

Rigidamente estagnado na declaração da esposa, à beira da morte, a personagem de Roger tem  nas suas mãos a narrativa de um livro inteiro que, à primeira vista, parece caminhar para um clímax, quando, na realidade, fica muito aquém, apesar das várias tentativas falhadas ao longo das páginas.

 

And he remembered what Judith had said: "You will live on in our children's lives." And he began to get glimmerings of a new immortality, made up of generations, an endless succession of other lives extending into the future.

 

Toda a narrativa se foca no modo reflexivo como Roger observa as acções das restantes personagens e, como consequência, tudo abranda, tudo é lento, vago, difuso. Como se o pensamento dele quisesse moldar forçosamente a realidade que observa à sua mente, mas a realidade, mesmo fictícia, tem vontade própria, escapando por entre os dedos de Ernest Poole.

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