We need the books that affect us like a disaster, that grieve us deeply, like the death of someone we loved more than ourselves, like being banished into forests far from everyone, like a suicide. A book must be the axe for the frozen sea inside us.
Não senti esta mesma identificação com Albert Camus.
Com Camus senti-me desconfortável, é verdade, mas um desconforto complexo e desapegado que não consegui tornar meu. Com Kafka, senti que também eu estava naquele quarto a viver tudo aquilo. E compreendi-o. Senti-me eu também ali.
Kafka não é um escritor para se ler de ânimo leve. Há que escolher o momento ideal das nossas vidas para nos embrenharmos nas suas palavras delirantes, solitárias e loucas. Mas depois conclui que todos os dias da nossa existência são maus para ler Kafka.
É um escritor incomodativo. Irritante.
Porque nos confronta com tudo aquilo sobre o qual não queremos falar: a existência, os objectivos de vida, o poder.
Como ele próprio escreveu numa carta a Oskar Pollak, 'se o livro que estamos a ler não nos acorda com um golpe na cabeça, então porque é que o lemos?'