Importa reconhecer a cada escritor a prerrogativa de experimentar as diversas possibilidades que uma língua oferece, bem como a de explorar os seus recursos de todas as maneiras possíveis e imaginárias.
O meu estilo difere do estilo de Tanikazi, tal como é diferente do estilo de Kawabata. Isso é, a todos os títulos, natural. Porque eu, Haruki Murakami, sou um escritor independente.
Haruki Murakami in Prefácio de Ouve a Canção do Vento (1979)
Propunha-me construir um estilo fluente e «neutro», desprovido de ornamentos supérfluos. Não estava nos meus planos produzir prosa num japonês esbatido, mas transmitir ao romance a minha própria voz, utilizando um japonês que se afastasse o mais possível da chamada «linguagem romanesca».
Para tal, tinha de arriscar. Falando com franqueza, naquela altura, a língua japonesa não passava, no meu entender, de um instrumento funcional. Alguns dos que me criticam viram nisso um insulto à língua japonesa.
Todavia, um idioma é, na sua essência, sólido, possuindo uma capacidade de resistência apoiada num longo historial com provas dadas. Independentemente do modo mais ou menos duro como é tratado, a sua integridade nunca fica posta em causa.
Haruki Murakami in Prefácio de Ouve a Canção do Vento (1979)
Sim, lá isso... Acabamos todos por morrer. Mas antes tens de andar por cá durante pelo menos cinquenta anos. E para ser franco, cinquenta anos passados a pensar, falando sem papas na língua, é muito mais cansativo do que viver cinco mil anos sem pensar em nada. De acordo? Tinha razão. Totalmente de acordo.
in Ouve a Canção do Vento (1979) de Haruki Murakami
Após o jogo (a equipa dos Swallows ganhou, se bem me lembro), apanhei o comboio até Shinjuku, comprei uma resma de papel branco e uma caneta de tinta permanente. Ainda não havia computadores pessoais nem processadores de texto, como é bom de ver, o que significava que tinha de escrever à mão, alinhando um carácter após outro.
Aquilo representou uma experiência nova e estimulante. Recordo perfeitamente a minha alegria e o meu entusiasmo.
Haruki Murakami in Prefácio de Ouve a Canção do Vento (1979)
Entre o que nos esforçamos por compreender e aquilo verdadeiro que realmente compreendemos existe um abismo. Um abismo tão profundo que, por maior que seja a nossa vara de medição, nunca poderemos calcular o seu alcance.
in Ouve a Canção do Vento (1979) de Haruki Murakami
Ainda recordo nitidamente a sensação que tive. Foi como se alguma coisa descesse do céu, devagar, quase como que flutuando, e eu pudesse agarrar nela.
Por que razão quis o destino que me viesse parar às mãos, não sei dizer, mas aconteceu. Nunca soube e continuo sem saber. Foi uma espécie de revelação, se quiserem. Talvez «epifania» seja uma palavra melhor.
A única coisa que posso afirmar é que a minha vida mudou da noite para o dia no preciso instante em que Dave Hilton, enquanto primeiro batedor, alcançou, de forma magnífica, a segunda base.
Haruki Murakami in Prefácio de Ouve a Canção do Vento (1979)
Escrever, para mim, é uma tarefa terrivelmente angustiante. Posso estar um mês inteiro sem redigir uma única linha, ou chegar à conclusão de que tudo o que escrevi durante três dias e três noites a fio não vale a ponta de um corno. Ao mesmo tempo, a escrita dá-me imenso gozo. Em comparação com as adversidades que encontramos pelo caminho, ao escrever torna-se-me muito mais simples dar sentido à vida.
in Ouve a Canção do Vento (1979) de Haruki Murakami