Acabei de ler o capítulo de Krylov do The Penguin Book of Russian Poetry, mas não queria avançar com a leitura do livro sem antes partilhar algumas curiosidades sobre o poeta.
O La Fontaine russo, como geralmente é conhecido, conseguiu criar um estilo próprio, escrevendo fábulas com maior detalhe e mais satíricas que o seu predecessor francês.
Pela altura da sua morte, 77.000 cópias das suas fábulas tinham sido vendidas na Rússia.
O segredo do seu sucesso deveu-se ao facto de não só as suas fábulas terem sido baseadas em eventos históricos, mas também pela sua marcante sabedoria e humor, que os leitores adoravam.
Mas as suas fábulas nem sempre tiveram a vida facilitada. Muitas vezes, os censores do governo proibiram a sua publicação e, algumas delas, só viram a luz do dia após a sua morte.
As palavras levam-nos por vezes por caminhos que nunca nos ocorreria percorrer e geralmente a nossa escrita chega a um destino mais longínquo do que aquele que inicialmente tínhamos traçado.
Krylov nunca teve qualquer intenção de ser um escritor de fábulas. Vivia das traduções das fábulas de La Fontaine, mas à medida que as traduzia a vontade de as escrever ia crescendo no seu íntimo.
Apesar de alguns dos seus temas terem sido baseados em Esopo e La Fontaine, moldou-os sob a sua pena, escrevendo fábulas repletas de raposas, corvos, lobos e ovelhas que se tornaram em estereótipos sociais russos, personagens de uma sátira que apelava moralmente ao senso comum, ao trabalho árduo e à justiça.
O seu primeiro livro de fábulas, com o alto patrocínio da família imperial, foi publicado em 1809 e a sua leitura viria a enriquecer de certa forma a linguagem, visto que muito dos seus aforismos tornaram-se parte da fala quotidiana dos russos.
Ao contrário de Derzhavin que por questões financeiras e familiares viu-se na contingência de seguir profissionalmente pela via militar, Krylov desde cedo que decidiu enveredar pela carreira literária.
Aos 14 vendeu a sua primeira comédia a uma editora e com o dinheiro que ganhou comprou livros: Molière, Racine e Boileau.
Nada de estranho, considerando que o seu pai sempre fora um ávido leitor, tendo o poeta vivido toda a sua meninice por entre livros.
Cresceu com eles, escreveria outros tantos e por eles morreria.