Fotografar leitores que lêem durante as suas viagens de metro em Nova Iorque foi uma ideia que se concretizou num projecto fotográfico.
Pergunto-me se os leitores do submundo, que viajam pela escuridão, encontram a luz nas páginas dos livros que transportam. E porquê fotografar leitores? O que revelam eles no olhar que valerá a pena ser fotografado? Estará a leitura a transformar-se num acto humano tão raro que fotografá-lo seria uma maneira de o registar para a posteridade? Ou será a leitura um acto humano que revela apenas quem somos?
– Eu sou vosso cliente há muito tempo, já comprei cá muitos livros, e precisava da sua ajuda. Preciso de uma informação, pode ser? – Sim, claro. – Preciso de uma informação da internet. Procure, por favor, “endereços das igrejas evangélicas no distrito de lisboa”.
– Eu queria um livro… que se chama «Massa». – Massa? Não temos nenhum livro com esse nome. Será «Massas», mais qualquer coisa? – Massa… Pediram-me este livro… – «Massa», só, não temos. – É sobre os judeus… – Sobre os judeus. – Massa… Massada… – Massada?? Com s ou com ç?? – Não sei… Massada… – Ah! Mossad!!
Duas adolescentes. Uma pede-me O Colar, da Sophia de Mello Breyner. Enquanto folheia o livro, vai comentando com a amiga, numa sequência inesquecível de expressões de asco: – Ugh, Ana, isto tem poesia!… Não sei porque é que não nos mandam ler coisas mais interessantes. É só estas porcarias. A amiga, há que dizê-lo, não alinha com ela uma única vez. Entretanto, completo a venda e pergunto-lhe. – Quer o contribuinte na factura? – Não. Diz ela para a amiga: – Eu sei lá o que é o contribuinte.