Mário de Andrade foi um homem cheio de inquietude. Tanto que para além de querer aprender tudo o que houvesse para aprender, também quis mudar algo no mundo à sua maneira.
Como tal participou em políticas públicas, especialmente enquanto foi responsável pelo Departamento de Cultura do Município de São Paulo, onde esteve à frente de projetos para a Biblioteca Municipal (agora chamada de Biblioteca Mário de Andrade), a Discoteca Pública e parques da cidade.
Criou também a proposta que fundaria o Serviço do Património Histórico e Artístico Nacional, que mais tarde se tornou num instituto autárquico de preservação patrimonial do Ministério da Cultura.
Em 1938, chegou também a assumir a direcção do Instituto de Artes da actual Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Não sei por que espírito antigo Ficamos assim impossíveis...
A Lua chapeia os mangues Donde sai um favor de silêncio E de maré.
És uma sombra que apalpo Que nem um cortejo de castas rainhas. Meus olhos vadiam nas lágrimas. Te vejo coberta de estrelas, Coberta de estrelas, Meu amor!
Tua calma agrava o silêncio dos mangues.
Poema I Não sei por que espírito antigo - Poemas da Negra
Para além do seu reconhecido talento para a literatura, Mário de Andrade foi um profundo estudioso e conhecedor de música. Aliás, chegou a estudar no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo em 1911, onde mais tarde viria a ser professor.
Queria ser pianista, ideia que abandonou após a morte do seu irmão Renato, de 14 anos, quando sentiu pela primeira vez um tremor nas mãos que nunca mais o iria abandonar.
Foi assim que decidiu enveredar pela literatura.
No entanto, não desistiu totalmente da música e continuou a estudar teoria musical e canto e, em 1928, publicou Ensaio Sobre a Música Brasileira, obra que inspirou alguns dos maiores compositores da música contemporânea brasileira, como Heitor Villa-Lobos e Camargo Guarnieri.
Para além da música e literatura, também se dedicou à fotografia, capturando com a sua Kodak a essência das cidades históricas de Minas Gerais e das paisagens de São Paulo.
Tarde macia, pra falar verdade: Não te amo mais do que a manhã, mas amo Tuas formas incertas e estas cores Que te maquilham o carão sereno. Não te prefiro ao dia em que me agito, Porém contigo é que imagino e escrevo
Excerto do poema Tempo da Maria - VI Louvação da Tarde
Neste lugar solitário Onde nem canta o sem-fim, Choro. E um eco me responde Ao choro que choro em vão. Eco, responda bem certo, Meus amigos me amarão? ... E o eco me responde: - Sim.
Excerto do poema Tempo da Maria - V Eco e o Descorajado
Muito há para dizer sobre Mário de Andrade e as suas particularidades. E uma delas foi ter sido ele um dos vanguardistas do modernismo brasileiro.
Inspirados pelo modernismo europeu, Mário de Andrade, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia organizaram a Semana de Arte Moderna de 1922. Juntos ficaram conhecidos como o Grupo dos Cinco.
Outro movimento apoiado por Mário de Andrade foi o antropofágico. Na sua casa, Oswald de Andrade leu pela primeira vez o Manifesto Antropófago, que criticava a dependência cultural do Brasil.