Muito, muito bonita esta La Maladie de la Mort [A Doença da Morte].
Parte meditação existencialista, parte fantasia erótica, esta pequena preciosidade, que me veio parar às mãos por mero acaso, conta a história de um homem e de uma mulher, um escritor e uma prostituta. Ele é um homossexual e decide comprar um corpo para tentar amar, para encontrar alguém que possa amá-lo. Ela obedece-lhe cegamente, deixa-se explorar e espera que as coisas aconteçam.
Há um paralelismo entre esta história e a história de Duras e Yann Andréa, ele próprio homossexual e, portanto, incapaz de ter desejo por ela, enquanto ela o amava aberta e loucamente.
Mais do que uma simples história entre um homem e uma mulher, é a história do amor impossível e da ausência de desejo, da alienação de um amor irreconciliável, de naturezas opostas, em que o espaço vazio que os separa é mais interessante do que as tentativas para o preencher.
Num artigo em Practicalities intitulado "Men", Marguerite Duras diz que:
No amor heterossexual não há solução. Homem e mulher são irreconciliáveis, e é a tentativa condenada de fazer o impossível, repetido em cada nova paixão, que devolve ao amor heterossexual a sua grandeza.
Tradução livre do inglês do excerto de The Malady of Death; Intricate Lace by Marguerite Duras de Lisa Thatcher
Procurá-la-ias talvez fora do teu quarto, nas praias, nos terraços, nas ruas. Mas não poderias encontrá-la porque à luz do dia não reconheces ninguém. Não a reconhecerias. Dela só conheces o corpo adormecido sob os olhos entreabertos ou fechados.
Surge na era da escrita neauveu roman da literatura francesa, diferente de Robbes-Grillet e outros da mesma época, sendo mais emocional do que intelectual.
Os seus livros são sobre o que não está a ser dito e sobre o que está a ser dito, mas ao contrário de outros escritores do mesmo período, os seus livros não são enigmas para serem descobertos no sentido convencional, mas enigmas emocionais para serem percebidos - ou não - pelo leitor.
A beleza e o peso da emoção são o mecanismo que impulsiona a sua escrita. Tal como um poeta, Duras muitas vezes demorava um dia inteiro para escrever uma linha, mas cada linha era uma peça única e singular de beleza.
Tradução livre do inglês do excerto de The Malady of Death; Intricate Lace by Marguerite Duras de Lisa Thatcher