Apesar de haver outros livros sobre educação que estarão estruturados sob uma perspectiva mais tecnicista, recomendo estes diários pela perspectiva humana que dão da sala de aula e da escola.
Tal como o ministro e os pais, a maior parte dos portugueses ignora totalmente o que se passa dentro da sala de aula. As páginas destes diários serão para eles, como o foram para mim, uma revelação.
Li há mais de 20 anos um livro sobre a leitura na escola cuja primeira frase decorei, de tanto a ter citado aos pais dos meus alunos: «O verbo ler, como o verbo amar, não se conjuga no imperativo.»
in Maria Filomena Mónica-Diários de uma Sala de Aula
Combater o insucesso escolar com testes estaduais ou, como em Portugal, com exames nacionais, tem assim um risco de que a generalidade das pessoas talvez não se aperceba: para não deixar para trás os alunos com dificuldades, está-se num certo sentido a deixar para trás quem podia e gostaria de fazer mais. Para os pais dos bons alunos, que trabalham com eles e se apercebem do seu potencial, é frustrante assistir ao nivelamento por baixo nas escolas. Para os professores ambiciosos, que são criativos e querem transmitir saber e não apenas mínimos aferíveis, também deve ser.
in Maria Filomena Mónica-Diários de uma Sala de Aula
O contraste entre a alimentação nas escolas públicas americanas e nas portuguesas dava, por si só, um livro. Os almoços em qualquer escola portuguesa seriam, aos olhos de qualquer americano, comida gourmet.
in Maria Filomena Mónica-Diários de uma Sala de Aula
Quase ninguém da minha turma lê o jornal e muitos NUNCA o fizeram. Um maior número lê revistas e alguns, poucos, lêem livros. Há pessoas na turma que se gabam de nunca terem lido um livro.
Não há ninguém na turma que não tenha Facebook e que não vá ao YouTube. Os jogos são a coisa mais utilizada nos computadores. O Google e a Wikipédia são usados para procurar informação sobre temas para trabalhos. Todos os alunos têm telemóvel e mesmo eu, que não envio muitas mensagens, recebo cerca de 2500 por semana!
in Maria Filomena Mónica-Diários de uma Sala de Aula
Olhando à volta, é inacreditável o que se vê (...).
O barulho (vozes, risos, cadeiras e mesas arrastadas) sucede-se ininterruptamente como barulho de fundo durante toda a aula. Os amigos que foram separados gritam de uma mesa para a outra, há pessoas sentadas nos parapeitos das janelas - com os pés em cima das cadeiras onde deveriam estar sentadas - a conversar. Duas alunas pintam as unhas e quatro desenham gráficos nos diários. Um grupo ao fundo da sala joga às cartas. Eu escrevo este diário. Os telemóveis, os iPhones e os Mp3 não páram de tocar.
in Maria Filomena Mónica-Diários de uma Sala de Aula