A Douta Ignorância estruturalmente divide-se em três livros:
O primeiro pretende aprofundar o estudo do Máximo absoluto, em si inominável, mas venerado como Deus na religião de todos os povos.
O segundo volta o olhar para o universo, de que o Máximo absoluto é a causa e o princípio e que, existindo assim fora da unidade desse Máximo de que provém, não pode subsistir sem a pluralidade em que se apresenta, razão pela qual não recebe, como o primeiro, a designação de Máximo absoluto, mas sim de máximo contraido.
Finalmente o terceiro livro procura encontrar o mediador entre o primeiro máximo e o segundo máximo, e que, para isso, tem de participar simultaneamente da natureza absoluta do primeiro e da natureza contraida do segundo: jesus, sendo Deus, é, por isso, absoluto, e, sendo homem, é por isso contraido, estabelecendo-se, pois, como unidade e unificação de todas as coisas.
Por isso, os sábios procuraram acuradamente neles exemplos das coisas que devem ser indagadas pelo intelecto, e nenhum dos antigos, que seja tido como grande, enfrentou as coisas difíceis a partir de outro elemento de comparação que não fosse a matemática, de tal maneira que Boécio, o mais ilustrado dos Romanos, afirmou que ninguém que fosse totalmente privado da prática das matemáticas poderia atingir a ciência das coisas divinas.
A unidade, com efeito, não é senão trindade, pois exprime indivisão, diferenciação e conexão. A indivisão deriva da unidade, tal como a diferenciação e bem assim a união ou a conexão. Por isso a unidade máxima não é outra coisa senão indivisão, diferenciação e conexão.
As coisas máximas nunca podem, pois, ser correctamente entendidas, se se não entendem como trinas. Usemos exemplos adequados: vemos que a unidade do intelecto não é senão inteligente, inteligível e entender.
Nicolau de Cusa identificava-se mais com os Neoplatonistas e não nutria grande simpatia pelos Aristotélicos.
Para ele a filosofia de Aristótreles era um obstáculo para a mente, porque um dos seus princípios é o da contradição, que nega a compatibilidade dos contrários.
Cusa ao defender que Deus era a coincidência dos opostos, revelou que Aristóteles teria errado ao não reconhecer que os contrários, afinal, poderiam sintetizar-se numa mesma realidade.
Aliás, criou alguma polémica e chegou a chamar aos seus opositores de "seita aristotélica" por considerarem uma heresia a coincidência dos opostos.
Apesar de no final da Idade Média as mentes mais criativas terem abandonado o aristotelismo para seguirem outros caminhos do pensamento, a filosofia de Aristóteles continou a ser ensinada nas universidades, mas acabou por ir perdendo vitalidade.
Toda a desigualdade se resolve, pois, na igualdade.
O igual está, de facto, entre o mais e o menos. Por isso, se subtrais o que está a mais, ficará igual. Mas se for menos, subtrai ao outro aquilo que está a mais e tornar-se-á igual. E poderás proceder deste modo até que, subtraindo, chegarás aos elementos simples.
É claro, pois, que toda a desigualdade se reconduz igualdade à mediante um processo de subtracção.