A desolação ucraniana
Kiev, Kherson, Kharkiv, Zhytomyr, Gorenka, Chernihiv, Mariupol, Mykolaiv, Bucha, Irpin, Borodyanka, Kramatorsk ...
Cidades, ruas, casas, seres humanos reduzidos a cinzas de pura indignidade.
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Kiev, Kherson, Kharkiv, Zhytomyr, Gorenka, Chernihiv, Mariupol, Mykolaiv, Bucha, Irpin, Borodyanka, Kramatorsk ...
Cidades, ruas, casas, seres humanos reduzidos a cinzas de pura indignidade.
Sugiro a visualização das entrevistas reunidas em The Putin Files captadas durante 6 meses (2017) em Washington, Moscovo, Nova Iorque e Califórnia, a responsáveis das agências de inteligência dos E.U.A., diplomatas, jornalistas, investigadores, políticos russos e norte-americanos que dão a sua opinião e revelam muitos factos desconhecidos do grande público.
Destaco uma das entrevistas a Vladimir Kara-Murza, líder da oposição russa, crítico de Vladimir Putin e sobrevivente a duas tentativas de envenenamento em Moscovo.
A única diferença entre Hitler e Stalin foi o tamanho dos seus bigodes, de resto foram iguais. Ambos foram seres especiais, cuja autoridade não podia, nem devia ser questionada.
Caem os bigodes, mas persistem os seres especiais. Alguns deles fingem que foram eleitos democraticamente, outros nem se dão ao trabalho. Têm em comum a sua própria insignificância, a força motriz que os levou ao poder absoluto, poder esse que é a sua missão altruísta e desinteressada de proteger o povo de tudo e de todos, excepto deles própios.
Precisam desesperadamente de uma batalha, uma batalha qualquer, para manter a existência mesmo que ficcional, de inimigos que precisa de combater ferozmente para justificar o seu domínio protector.
A História tem demonstrado que há algo de profundamente errado com a humanidade, que continua a permitir a ascensão de sociopatas ao poder. Mas a História é apenas um livro empoeirado e entediante que apenas serve para adormecer as insónias do mundo.
Isabel de Inglaterra nunca pôde fazer escolhas.
Profissão, interesses, amigos, a casa onde morar, a cidade onde viver, tempo para os filhos, as férias, os tempos livres, o que fazer no seu dia-a-dia, os descansos.
Foi uma mulher programada pelo destino que não escolheu.
Sem espontaneidade ou privacidade, que humanidade lhe restará?
Rainha ou escrava?
Era ele um Rei Mago
Que desapareceu por magia
Para um lugar muito vago,
Mas mal ele sabia
Que ia ser apanhado
De pijama, sem companhia,
João Rendeiro era assim chamado
Vive agora numa delegacia.
Será um Natal tramado,
Sem cadelinhas ou iguaria.
Setembro já lá vai, mas não sem antes deixar alguns comentários. Um deles, relativamente às eleições autárquicas e ao seu legítimo vencedor: a abstenção.
Uma democracia para o ser tem de abarcar opostos e, apesar de o voto ser um acto democrático, a sua recusa voluntária também o é. Podemos acusar os abstencionistas de irresponsabilidade democrática e por não terem votado não poderão criticar ou queixar-se do estado da nação, mas não nos podemos esquecer que um abstencionista não surge do nada.
Um voto em branco ou um voto nulo exigem que o cidadão se preste a sair de casa para os fazer, mas um abstencionista é alguém que se encontra numa fase particular da sua vida como cidadão participante numa democracia. É alguém que um dia, por alguma razão, decide parar. Não votando está a exercer o seu direito democrático de protesto, através da recusa e do silêncio, quando todos os seus outros protestos não foram ouvidos.
As promessas eleitorais e as que se seguem revestem-se cada vez mais de artifícios de ficção que vão provocando um cepticismo crónico a quem as ouve.
Anos de governação sem atender às necessidades de um país e às dos seus cidadãos acabam por legitimar a recusa de contribuir para a aura de ficção perpetuada por quem governa.
A abstenção não é a solução e o voto tem em si todo o potencial para provocar mudanças.
Mas onde estão essas mudanças que o voto deveria provocar?
Neste quase final de Verão quero escrever futilmente sobre o nada e o vazio em que caí ao adormecer de frente para o mar, dos cabelos despenteados que recusaram o pente e a escova, da pele salgada e rebelde de sol e areia, dos meus olhos que se inundaram de marés.
Queria lá ficar onde estive, naquele estado de irresponsabilidade fingida, de despreocupação e esquecimento pelo mundo.
Notícias houvesse e ignorava-as uma por uma, histórias fictícias de um livro que recusava ler. Deixei-as ficar naquele limbo onde nada acontece, por isso neste final do mês não comentarei absolutamente nada que não seja o mar e o sol.
Este Verão tem sido o Verão da indiferença.
Indiferença perante a pandemia e as regras ridículas que nos são impostas. Já ninguém respeita a incoerência governativa que este país tem sofrido à mercê dos delírios de políticos que não sabem gerir um país, quanto mais uma pandemia.
Mas receio que esta indiferença se aprofunde e nos leve a um lugar de onde não conseguiremos voltar.
Creio que os portugueses estejam já numa fase em que estão preparados para voluntariamente submeterem a sua liberdade individual em prol da paz, da estabilidade, da segurança, mesmo que fictícias. Não querem ser livres, querem estar seguros.
Aliás, creio que há um equívoco generalizado do conceito de liberdade em Portugal que se vai acentuando cada vez mais, em que para se ser livre basta ter dinheiro. E isto preocupa-me.
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