Ditou a natureza que 2020 seria o ano do seu grito.
Um basta! que obrigou o mundo inteiro a parar para reflectir.
2020 foi o ano em que a humanidade adoeceu, morreu e a natureza ganhou saúde, renasceu.
Foi também o ano da perplexidade humana, um ano interessante do ponto de vista sociológico e psicológico, em que o ser humano deixou cair a máscara, apesar de ter de usar uma diariamente, revelando a sua humanidade ou a falta dela nestes tempos difíceis. As certezas que tantos tinham ruíram, desfazendo-se em pó. As certezas de quem eram, seguiram o mesmo caminho.
Fala-se muito do regresso à normalidade, mas não sei de que normalidade se fala, que conceito será esse. Talvez todos queiram regressar à mesma normalidade que consideravam normal e que, afinal, talvez não o fosse.
Se vai ficar tudo bem?
Importa é ficarmos bem, porque a saúde continua a ser um dos bens mais preciosos.
Em 2020 ficará na minha memória uma imagem que nunca esquecerei: todas as manhãs em que conduzi para o trabalho, em estradas completamente desertas, sem avistar uma alma humana, debaixo de um silêncio ensurdecedor e apocalíptico.
Nessas manhãs, apesar de sentir que o mundo estava a acabar, nunca vi o céu tão bonito, nunca respirei um ar tão puro, nunca tinha sentido o silêncio assim.
Foram estes momentos cataclísmicos que me marcaram com a sua dualidade de grande beleza em plena destruição.
Quis escrever sobre a pandemia, mas sem escrever sobre ela. Quis escrever sobre a incerteza do que viria a seguir, do arco-íris que não encontraremos.
Quis escrever, mas não escrevi, por isso deixo-vos as palavras de Valter Hugo Mãe (um dos meus autores favoritos) sobre o que nos espera do outro lado do espelho pandémico:
Perante este pasmo assustado da pandemia senti-me exposto a um certo espelho. Tive a sensação de estar em dobro. O que significa que a solidão é de facto um espelho diante de nós.
Vamos evoluir num sentido mais consumista, as pessoas estarão mais egoístas. Porque, de repente, sentem necessidade de serem compensadas. Num sentido profundamente infantil. Quando as libertas de alguma coisa que acham que não mereceram, tornam-se carentes e mimadas. E já vamos assistindo a isso.
Em pleno século XXI e continuo sem compreender como é que a Humanidade evoluiu tanto e continua a atirar os seus velhos, esses seres inúteis, imprestáveis, uns estorvos para incubadoras, sempre com as melhores das intenções, sempre pelos melhores motivos.
Não bastassem as incubadoras, roubam-lhes o pouco que lhes resta, o direito à vida possível.
Esperei - ingenuamente - chegar a este século e não ter de assistir a esta necessidade de escolha sobre quem são os seres humanos mais importantes, merecedores de salvação.
Brincam-se aos deuses, atirando-se ao ar existências, esperando que a fortuna salve os fracos, porque os deuses, esses, não os podem salvar.
Só que a sorte, essa malvada do destino, nunca fica do lado dos indefesos, pois não?
Tanto Frankenstein à solta, tanto esqueleto fora do armário, tanta teia de aranha que nem sei para qual deles olhar primeiro.
As filas de trânsito
O doutor Costa está na vanguarda da ciência e da investigação e do alto da sua sabedoria científica combate o coronavírus com filas de trânsito. Três horas de filas de trânsito para regressar a casa do trabalho prova ser o método mais eficaz para combater um vírus. Este método foi alvo de um profundo estudo científico com base na teoria das aberrações: quanto mais aberrante o método, mais a sério parece.
E por falar em aberrações
A Festa do Avante é quando o Pai Jerónimo quiser, mas já andam a enfiar o barrete ao Pai Natal que pode ir à Fórmula 1 e juntar-se a milhares de pessoas, que a DGS deixa. Agora isso de comemorar o Natal com uma família é absolutamente chocante. Nem sei como é que nos passou pela cabeça a hipótese de celebrar o Natal!
Em plena época das bruxas, o nosso primeiro tem andado a enfeitiçar os portugueses, dando-lhes doçuras para poder fazer as suas travessuras:
Tentei jogar na app stayaway-covid o pacman, mas as cabecinhas redondas que abrem e fecham a boca não apanharam nenhum infectado no labirinto. Entetanto fui perseguida pelos fantasminhas salazarentos que me tentaram impôr a instalação da app. Comi-os.
Batatinha e Companhia querem o Carnaval em todas as ruas deste país, impondo o uso de máscara na via pública. Entre o dizer e o desdizer as medidas do governo já não obedecem a qualquer lógica, nem tão pouco a qualquer parecer científico. Ainda estou a tentar descobrir para que raio serve o Conselho Nacional de Saúde. Pelos vistos apresenta ao ministro da Saúde e à Assembleia da República um relatório sobre a situação da saúde em Portugal, formulando as recomendações que considerar necessárias. Tem 30 pessoas a serem pagas e que não servem absolutamente para nada. E não bastasse a inutilidade deste conselho, o governo decidiu criar mais um, que é quase igual ao primeiro, mas completamente diferente: Conselho Nacional de Saúde Pública. Tem 20 pessoas a serem pagas e que não servem absolutamente para nada. Portanto 50 pessoas - ou 49 se um membro do primeiro conselho fizer parte do segundo conselho - que nem fingem que estão a fazer algo de útil por esta pandemia.
10.510 milhões vão ser aplicados na ferrovia numa linha de alta velocidade que vai ligar Lisboa e Porto numa 1:15h. Finalmente vamos poder fazer a travessia proibida entre concelhos em fins-de-semana prolongados sem sermos vistos, tal a velocidade a que vamos. Ainda estou para descobrir que fim-de-semana prolongado é este de que tanto falam, quando o feriado de dia 1 de Novembro é a um domingo. Talvez seja fim-de-semana prolongado para os vários conselhos nacionais de saúde.
Entretanto descobriu-se a "Fadiga da Pandemia", quando o medo e o pragmatismo são substituídos pela apatia e pelo desleixo. Quando é que se apanha isso? Ir ao supermercado de pijama comprar o último pacote de papel higiénico, conta?
Se houver recolher obrigatório, por favor não comprem as latas todas de atum. Agradecida.
Não sei bem o que tem acontecido pelo mundo cor-de-rosa, pelo que parece muito pouco.
Isto é só festas
Afinal, houve outra festa de arromba, onde se cantou Parabéns à Covid, Nesta data querida, Muitas felicidades, poucos anos de vida, Hoje é dia de festa, cantam as nossas almas...
Entretanto...
... procurei mais notícias cor-de-rosa para comentar, mas só me apareceu isto:
Tanta hiperactividade noticiosa com défice de bom senso, que nem sei bem por onde começar.
Todas as notícias são deliciosamente arrepiantes, por isso aqui vai:
O Sítio do Picapau Amarelo
Começo por um bairro com vista desafogada para o Tejo, com nuances elitistas de presidentes da câmara que adoravam lá viver, mas que não podem, só porque sim. O amarelo do bairro não é suficientemente cinematográfico para as grandes interpretações artísticas da política. Mas a vista é espectacular.
Uma festarola do caraças
Mais adiante uma festa de arromba - até o Gato Fedorento lá foi - em que o único problema foi o caminho para lá chegar. Continuo sem perceber o que se celebra lá. Talvez a democracia da Coreia do Norte.
Um banco mau, mas tão mau de bom que tinha de ser inventado, e Portugal está na vanguarda
Ora num dia António Costa está na Comissão de Honra do Benfica, ora no outro já não está. E restou uma questão existencial: quem lá esteve foi o cidadão ou o primeiro-ministro?
Em plena época de tontices, Agosto não se deixou ficar atrás do mês passado e continua imparável no seu despropósito, não estivéssemos em 2020.
☼ Há uma pequena probabilidade de um asteróide atingir a Terra em Novembro, segundo a NASA, o que seria excelente para acabar 2020 em grande. Infelizmente a única solução para todos os problemas da humanidade é estatisticamente remota e não apresenta uma ameaça para a Terra!
☼ Rui Pinto admitiu ser um pirata informático e que a culpa foi das vítimas que lhe deram facilmente acesso aos seus emails. Os psicopatas também dizem o mesmo para justificarem os seus crimes. De qualquer modo, qual Robin Hood, alegou que a sua culpa deveria ser diminuída, porque os seus motivos eram nobres, o de revelar crimes. Ainda bem que Rui Pinto está do lado do bem, o que quer que isso signifique.
☼ Graça Freitas anda de cabeça perdida e não sabe muito bem o que fazer com a Festa do Avante. Provavelmente não sabe bem o que é nem para que serve. Nós também não.