Booth Tarkington teve um papel activo como legislador, mas tinha pavor de falar em público, o que era um contrasenso, porque para que as propostas de lei fossem avante era necessário discursar e muitas vezes falhava o seu intento:
Eu preferiria ser preso a ter que fazer um discurso.
No entanto, nem tudo ficou perdido ao reunir numa colecção In the Arena histórias políticas que foi escrevendo, resultando num convite inesperado do presidente Theodore Roosevelt para que o escritor se reunisse com ele na Casa Branca para um almoço informal.
Numa carta ao pai Tarkington escreveria
The President made a long & generally favorable comment about the stories. Of course, I just sat & purred—too pleased to eat.
He saw little essential difference between thirty-eight and eighty-eight, and his mother was to him not a woman but wholly a mother. He had no perception of her other than as an adjunct to himself, his mother; nor could he imagine her thinking or doing anything —falling in love, walking with a friend, or reading a book —as a woman, and not as his mother. The woman, Isabel, was a stranger to her son; as completely a stranger as if he had never in his life seen her or heard her voice.
Ao criar um ciclo de leitura de premiados Pulitzer decidi dar o primeiro passo, num caminho iniciático peculiar, pela literatura dos Estados Unidos. Sei que há grandes nomes por onde poderia ter começado como Edgar Allan Poe, Emily Dickinson, Walt Whitman, William Faulkner entre tantos outros, mas escolhi começar desta forma.
Pela primeira vez, em toda a minha vida de leitora, li um premiado Pulitzer e, logo o primeiro de todos eles: His Family de Ernest Poole.
Pesei o contexto histórico e a intenção do autor, mas ainda assim Poole não me encantou. Ao explorar a mente de um homem, cujas três filhas crescem e mudam com os novos tempos, Poole coloca a eterna questão existencial se as mudanças acontecem para melhor ou para pior. Tal como Os Irmãos Karamazov de Dostoiévski cada uma das suas três filhas representam três modos diferentes de se viver a existência, como mãe, como activista e como um espírito livre. E é através da família que as grandes mudanças sociais e económicas, que ocorrem com a Primeira Guerra Mundial, são analisadas, o que torna o tema da reforma social, que Poole gosta tanto de advocar, mais real e pessoal e não um mero relato jornalístico.
Há pequenos precisosismos da época que achei interessantes como o relato de alguns momentos da história de Nova Iorque, o aparecimento dos novos subúrbios da cidade, a mecanização da agricultura, a liberdade sexual feminina. O que achei mais engraçado foi o optimismo e a esperança com que o autor encara a Primeira Guerra Mundial, esperando um desenlace rápido e pacífico, quando no futuro iria ocorrer uma Segunda Guerra Mundial.
Detestei George Amberson logo que o li. Não só o detestei, como me sinto constantemente irritada com a sua presença nestas páginas, o que é fenomenal, revelando a capacidade de Tarkington de criar personagens brilhantes.
Filho único de Wilbur e Isabel Amberson, neto do Major Amberson, é o herdeiro mimado da fortuna dos Ambersons. De tão mimado tornou-se narcisista, arrogante, insuportável para toda a cidade.
Aos nove anos é um "terror principesco". Apesar da sua aparência angelical de meias de seda e gola de renda, George não tolera que ninguém se lhe oponha, mostrando a sua superioridade com má educação, com brincadeiras agressivas, aterrorizando tudo e todos com um profundo desrespeito, que considera ser um direito de nascença, devido ao seu estatuto.
O seu desprezo por aqueles que não são da sua classe é tão grandioso que os habitantes da cidade desejam secretamente que o "senhor entre os meninos" caia do seu pedestal, mas ele permanece acima de qualquer punição.
Não é humilhado por nada, nem ninguém, e a sua arrogância é invencível.
The Major, his daughter, and his grandson were of a type all Amberson: tall, straight, and regular, with dark eyes, short noses, good chins; and the grandfather’s expression, no less than the grandson’s, was one of faintly amused condescension.
There was a difference, however. The grandson’s unlined young face had nothing to offer except this condescension; the grandfather’s had other things to say. It was a handsome, worldly old face, conscious of its importance, but persuasive rather than arrogant, and not without tokens of sufferings withstood.
Quando Booth Tarkington saiu de Princeton, saiu decidido a tornar-se escritor. Graças à herança do tio Newton passou entre quatro a cinco anos a viver confortavelmente sem necessitar de trabalhar. Para ele foi um período de aprendizagem, apenas incentivado pela família e muito criticado pelos amigos mais próximos.
Em 1898, durante uma viagem a Nova Iorque, a sua irmã Hauté levou consigo um manuscrito de um pequeno romance que Tarkington tinha escrito - Monsieur Beaucaire - bem como uma introdução, e entregou-os na editora S. S . McClure. Mais tarde, Tarkington enviaria o manuscrito The Gentleman from Indiana e duas semanas depois recebia uma carta do escritor e consultor literário Hamlin Garland.
Mr. McClure has given me your manuscript,The Gentleman from Indiana, to read.
You are a novelist.
Tarkington viria a confessar que a carta recebida de Hamlin Garland mudou toda a sua vida. De um dia para o outro, mergulhou no mundo literário e editorial, conhecendo celebridades como Kipling.
Após as primeiras páginas de The Magnificent Ambersons, onde percorremos as ruas animadas, cheias de humanidade, vozes, ruídos e arquitectura, as primeiras personagens da família começam a revelar-se.
Major Amberson, o patriarca da família, ao enriquecer torna-se um grande proprietário e a sua fortuna permite que toda a sua família mantenha uma vida despreocupada e luxuosa. Ouvem-se os comentários espantados pelas avenidas destas páginas, onde se sussurra sobre as extravagâncias dos Ambersons e os seus luxos incomparáveis.
Isabel Amberson, filha de Major Amberson, é uma mulher de conveniências que se conforma com o seu estatuto, apesar da sua sensibilidade e coração lhe gritarem o contrário.
Apesar de amar profundamente Eugene Morgan, desconsidera-o como futuro marido, simplesmente porque ele não cumpriu as conveniências numa única noite de diversão que escapou do seu controlo. Acaba por se casar com o conveniente Wilbur Minafer, uma figura entediante, monótona, previsível, que não ama, conformando-se a um casamento de aparências.
Para compensar a sua falta de amor pelo marido, transfere todo o seu amor para o filho, oferecendo-lhe a sua total admiração e confiança, e o trágico deste amor reside no narcisismo e na arrogância insuportável que o pequeno George começa a desenvolver.
Isabel vive solitariamente aprisionada ao amor que jamais terá, de Eugene Morgan com quem não casou, e de George, o filho que se tornou incapaz de amar o próximo. Tornou-se numa mulher que se anulou ao ponto da invisibilidade.