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Livrologia

Livrologia

25
Abr21

Uma cidade e todo o exército dependem de quem governa

Encolerizado, logo lhe lancei toda a espécie de injúrias, sem esquecer nenhuma, ao ver que ele me despojava das armas que eram minhas. Ao chegar a este ponto, ele, que não é irascível, ferido pelo que ouvira, replicou-me deste modo: «É que tu não estavas onde nós estávamos, mas longe, onde não devias. Por isso, e porque falas com tanta arrogância, jamais navegarás com elas para Ciros».

Depois de escutar  tais palavras e tais afrontas, lancei-me ao mar, rumo a casa, esbulhado do que era meu, por esse malvado e filho de malvados, Ulisses.

Contudo não o culpo tanto a ele como aos que se encontram no poder, pois uma cidade e todo o exército dependem de quem governa. Os mortais que praticam actos injustos, é devido às lições dos mestres que se tornam perversos.

Filoctetes in Filoctetes de Sófocles

25
Abr21

Esta chaga que jamais se sacia

Infeliz de mim, aqui estou a morrer de fome e de sofrimento há já dez anos, alimentando esta chaga que jamais se sacia. Aqui tens o que os Atridas e a violência de Ulisses me fizeram, meu filho. Que os deuses olímpicos lhes dêem uma pena que recompense o meu tormento!

Filoctetes in Filoctetes de Sófocles

24
Abr21

O abandono tem muitos nomes, mas apenas uma face

greek1.pngDesde Homero que encontramos a temática do abandono, da solidão e da traição e, em Sófocles, esse imaginário gira em torno dessa mesma tríade.

Em Filoctetes o abandono, a solidão e a traição são indissociáveis e não lhes é permitida uma existência individual. 

 

Com tal companhia, meu filho, me abandonaram neste deserto, quando, vindos da ilha de Crise, aportaram aqui com a sua frota. Então, contentes de me verem adormecer na praia, à sombra de uma rocha, depois de uma viagem no mar agitado, abandonaram-me e partiram. Como a um mendigo, deixaram-me uns míseros trapos e também algum alimento: bem mesquinho alívio. Que a mesma sorte lhes toque!

Porque o abandono de Filoctetes não é um abandono qualquer, é um abandono marcado por uma chaga viva, pela aridez da paisagem e pelo isolamento da ilha de Lemnos. Dez anos de provações marcados na carne e na alma e que afastaram Filoctetes da sua condição humana, conhecendo ele agora apenas a sua condição de selvagem.

A solidão que ele vivenciou não pode ser descrita como ausência, uma simples falta de companhia, mas sim como a condição que lhe foi imposta: a de renegado.

Excluído do seu próprio mundo pelos homens com quem lutou lado a lado, Filoctetes vive numa condição limítrofe entre a civilização e a barbárie, revelando um contraste trágico entre a repugnância que a sua aparência manifesta e a nobreza que a sua personalidade revela.

O abandono tem muitos nomes, mas apenas uma face, a de Filoctetes.

10
Abr21

Podes imaginar qual foi o meu despertar do sono nesse dia

E tu, meu filho, podes imaginar qual foi o meu despertar do sono nesse dia, após a partida deles. Quantas lágrimas verti, quantos males lamentei?

Vi que as naus em que navegava tinham partido todas e não havia homem algum no lugar, ninguém que me socorresse e me ajudasse a suportar a dor.

Observei tudo e não encontrei nada senão o desespero presente: e desse muita abundância, filho.

Filoctetes in Filoctetes de Sófocles

10
Abr21

Como foi Filoctetes ferido

greek1.png

O abandono de Filoctetes na ilha de Lemnos deve-se à sua ferida no pé e há várias versões que a tentam explicar.

Uma versão indica que Filoctetes chefiava um contingente de sete naus com cinquenta arqueiros, mas não chegou a Tróia com os outros chefes, porque durante a escala em Ténedo, foi mordido no pé por uma serpente, enquanto procedia a um sacrifício. A ferida infectou de tal modo que exalava um odor de putrefacção insuportável e por isso, Ulisses e os outros chefes abandonaram-no em Lemnos, onde permaneceu dez anos.

Outra versão conta que Filoctetes foi ferido não por um animal, mas por uma flecha de Héracles envenenada, atingindo acidentalmente o seu pé, como vingança de Héracles, que quis desse modo punir o perjúrio cometido por Filoctetes ao revelar o local onde ardera a pira erguida no Eta.

Outra versão ainda indica que os gregos abandonaram Filoctetes na ilha para que ele curasse a ferida. Em Lemnos exista um culto a Hefesto cujos sacerdotes eram conhecidos pelos seus conhecimentos no tratamento de mordidas de serpente. O herói ter-se-ia curado, chegando mais tarde a Tróia, para se reunir com o exército grego.

No entanto, para Sófocles o herói feriu-se na pequena ilha de Crise, onde foi mordido por uma serpente escondida nas ervas altas, no momento em que limpava o altar de Crise.

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