Há uma certa ironia nesta busca de Sir Galwyn pela mulher que irá arrancar dele o derradeiro «suspiro de um apaixonado», quando no seu caminho apenas encontra mulheres inumanas, inatingíveis, causadoras de suspiros, sim, mas de enfado mundano.
É de uma nobreza trágica e bela, a sua escolha final: a mais elevada e pura das mulheres.
E o jovem Sir Galwyn parou à beira do rio e a Fome e a Dor detiveram-se obedientes junto de si, e, enquanto observava as águas escuras e agitadas, compreendeu que já ali estivera e perguntou a si próprio se a sua busca turbulenta através do mundo não teria sido uma forma tortuosa e desnecessária de voltar a um lugar que não devia ter deixado.
Para este manuscrito de 1926, tão intimamente ligado ao monólogo mais mordaz de The Sound and the Fury, e concebido como oferta para uma jovem que lhe recusara casamento, Faulkner escolheu um título que não deixa dúvidas quanto às suas intenções de permear a alegria tradicional do primeiro dia de Maio com uma certa tristeza: o etnólogo Arthur Palmer Hudson, conhecido de Faulkner e recentemente falecido, recolheu no Mississipí algumas provas da existência da crença popular segundo a qual alguém que olha a água de um rio no primeiro dia de Maio verá o rosto daquele ou daquela com quem casará.
No início de Primeiro Dia de Maio, Sir Galwyn tem uma visão que lhe revela nas «águas escuras e agitadas... um rosto bastante jovem, vermelho e branco, com um longo cabelo brilhante».
Carvel Collin in Introdução de Primeiro Dia de Maio de William Faulkner
Recordo-me de um dia vos ter dito que o homem é um insecto zumbindo cegamente através de um mundo estranho, buscando algo que não pode nomear nem conhecer e que provavelmente não deseja.
Creio ser o momento de corrigir este aforismo: o Homem é uma mosca zumbindo sob o copo invertido das suas ilusões.
«Mas isso, Sir Galwyn, é a essência da própria vida: uma luta incessante para atingir sombras sem qualquer essência.
O homem é, quanto a mim, uma mosca zumbindo cegamente através de um mundo estranho, buscando algo que não pode nomear ou reconhecer e que provavelmente não deseja.»
Ilustração criada por William Faulkner para Primeiro Dia de Maio
Essa temática [o amor Ideal não dura eternamente] tão querida a Cabell terá certamente influenciado Faulkner no início de 1926 devido à sua relação atribulada com Helen Baird já que ele se sentia bem mais atraído por ela, do que ela por ele, e a constante frustração que daí advinha era-lhe bastante dolorosa.
Margery Gumbel disse-me que Faulkner conversara com ela em 1925 em New Orleans sobre a indiferença de Helen Baird.
A tia de Helen (...) recordava-se que, em 1926, enquanto escrevia Mosquitoes numa casa de campo vizinha à sua na praia de Pascagoula, Faulkner lhe confessara de uma forma dramática e apaixonada como sentia a falta dela.
Carvel Collin in Introdução de Primeiro Dia de Maio de William Faulkner
«E agora sei que ela não é diferente das outras raparigas que conheci, fossem elas vulgares ou belas. Ocorre-me», continuou profundamente o jovem Sir Galwyn, «que não é a coisa em si que o homem deseja mas o desejar da coisa. Ah, mas fere-me como espadas, saber que aquela que é mais encantadora do que a música, não me contentaria nem por um só dia.»