Uma ambiguidade existencial fatal e sem retorno
Esta pequena história de Pushkin - a minha pequena fuga à sua poesia - apesar de concisa e aparentemente muito simples, esconde dilemas humanos, temperados com alguma crítica social.
As primeiras páginas revelam de imediato o conflito de classes, quando nos apercebemos da existência de uma espécie de tabela que estabelece a ordem social, da pessoa mais importante à mais insignificante. Claramente que o chefe da estação encontra-se no fim da tabela, cedendo até a sua própria cama a um oficial que finge adoecer.
Acompanhamos também a dimensão da desigualdade entre riqueza e pobreza, não só ao nível das diferentes condições de vida, mas também como o dinheiro é valorizado. Enquanto os ricos o desperdiçam de forma fútil, os pobres poupam cada tostão em prol da sua sobrevivência.
Todos estes extremos acabam por provocar uma espécie de corrupção moral, em que a pobreza é facilmente manipulada e aproveitada pela riqueza, acabando num abismo de destruição quase inevitável.
Pushkin apresenta-nos os dilemas humanos como fazendo parte de uma ambiguidade existencial fatal e sem retorno.
Não é por acaso.
The Stationmaster foi publicado em 1830, um ano de grande conflito revolucionário em toda a Europa. Nessa época circulavam pelos russos intelectuais ideologias republicanas e constitucionais, apoiadas por sociedades secretas e Pushkin pertenceu a uma delas.