Uma experiência balsâmica
Os poemas deste terceiro e último volume da antologia da poesia de Jorge de Sena são nus, crús como todos os homens que nascem e morrem. Nada escondem e exibem a verdade da humanidade, a única verdade que existe entre tantas outras.
Aliás, Sena justificou o título deste conjunto de poemas que agora leio - Peregrinatio ad loca infecta - como momentâneas descidas críticas do poeta ao seio da sua visão do mundo. Estas descidas críticas têm sido apaixonantes, não só pela sua pureza, mas também pela suprema revelação do essencial.
Ler o âmago da humanidade em verso, palavras simples, sem rimas, porque a verdade não se compadece com palavras vazias, tem sido uma experiência balsâmica. Não são versos feitos de tristeza, mas daquela verdade que dói, mas que também cura.
Versos como:
Desde que humanos, não de nós morremos,
mas sim dos outros todos. Esses, sim,
são quem nos mata.
Ou como:
De solidão, apenas solidão,
nenhuma morte mata. O que nos mata
é tanta gente enchendo a solidão.