Uma obsessão incurável, a de ler o primeiro livro de um autor
Sofro de uma obsessão incurável: a de ler o primeiro livro de um autor.
Não importa se figura da lista dos seus melhores livros, não importa se foi esquecido pelos anais da literatura. O primeiro livro escrito é a declaração de alguém como autor. Por isso persigo incansavelmente o primeiro livro escrito.
E na senda da minha obsessão - que alimento sem remorsos - descobri o primeiro livro de poemas de Mário de Andrade. Não foi uma descoberta fácil e por isso mais orgulhosamente a exibo na minha estante.
Escrito sob o impacto da I Guerra Mundial e sob o pseudónimo de Mário Sobral, no Há uma Gota de Sangue em Cada Poema não encontramos o poeta que hoje conhecemos e que tanta influência teve no Modernismo brasileiro.
Encontramos um poeta ainda influenciado pelas escolas literárias anteriores à Semana de Arte Moderna, com poemas que obedecem a certas normas estéticas, como a metrificação e a rima, sem a liberdade que viria a colocar nos seus poemas mais tardios.
Mas é o seu primeiro, o livro que o fez nascer, e é tudo o que (me) importa para a sua leitura.