Uma vasta opinião sobre a realidade, uma visão de quanto tudo comparece em tudo
Tudo na obra afirmada como sendo para publicar pelo próprio Kavafis pertence a um continuum onde se distinguem e misturam histórias mitológicas, histórias da História, histórias da condição humana, história dos corpos, história das emoções (dentro deste último campo cabendo o domínio do especulativo a que não nos parece chamar de filosofia, embora «filosóficos» lhes chame o próprio poeta, por não nos parecer surgirem como tal o modo dos seus cogitamentos: julgamos ficar claro o que o poeta entende por filosofia quando, em «Dario», afirma «neste ponto/é necessário filosofia» e logo se segue um conjunto de implicações quase tão-só psicologizantes e moralizadoras; talvez se possam entender como filosóficos no sentido antigo da filosofia - a vontade de saber - que, num certo sentido, pode abranger também a psicologia).
Se cada poema pode parecer, e de facto também o é, separado e diverso dos restantes, o conjunto da obra lembra-nos que se trata sobre todas as coisas de uma vasta opinião sobre a realidade, uma visão de quanto tudo comparece em tudo: as lágrimas, as vitórias vãs, os desejos que, embora tentassem o contrário, um destino adverso quase sempre torna impermanentes.
in Prefácio de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis
in Os Poemas de Konstantinos Kavafis